sábado, 31 de março de 2012

Tem sido fantástico poder partilhar neste espaço o que me atormentou tanto e me fez duvidar, por tantas vezes, das minhas capacidades, do mundo e de mim. Julgo não fazer mais sentido prolongar o blog com as minhas viagens, porque acima de tudo, nunca quis que o blog se tornasse nisso... um sítio de viagens.

Espero poder ter contribuido para ajudar alguém; basta apenas uma pessoa para que tudo isto não tenha sido em vão.

Para os novos visitantes do site, é interessante começarem pelo primeiro post, uma vez que estamos a falar de um percurso, e tudo fará mais sentido se assim for.

Poderão continuar a enviar-me emails, sempre que quiserem. Responderei a todos.

Com amor.

: )

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A viagem para Moscovo trouxe-me vários desafios pessoais, em particular:
- foi a minha primeira vez no continente asiático;
- o contacto com pessoas potencialmente diferentes de mim e onde poderia ser difícil a comunicação caso me perdesse nas ruas, metro ou, pior, fosse abordado por um polícia;
- a língua russa usa um alfabeto diferente do português latim;
- foi a minha primeira vez a fazer escala durante a viagem, sendo que no total tinha 6h de viagem pela frente.
Tratou-se de uma viagem de trabalho pelo que o lazer estaria apenas ao meu alcance durante o fim de semana e, eventualmente, um ou outro dia durante a semana, caso o tempo e o volume de trabalho assim o permitisse.
A aventura estava marcada para começar poucos minutos depois das 8h de Portugal, mas devido a uns atrasos de embarque e todo o mais, acabei por apenas descolar da Portela às 8h30. O dia estava a desabrochar, a manhã estava calma, céu limpo e azulinho. Pensei eu... "Mesmo ótimo para viajar!". Seguiram-se 3h e uns centavos, quase nenhuma turbulência e um desvio de rota a meio, o que me fez passar por cima de Paris ao invés de ir direito para Zurique, na Suíça. O capitão avisou que iríamos mudar a rota devido a instruções dadas pelos amigos controladores aéreos, e nada mais adiantou. Ao aterrar a Zurique, olho para as horas e tinha exatamente 5 minutos para entrar dentro do meu voo de ligação que finalmente me depositaria em Moscovo pelas 16h, mais coisa menos coisa. Pois bem, ainda dentro do avião, informei as hospedeiras de que tinha um voo de ligação e que basicamente devia estar nesse preciso instante a sair do aeroporto em direção a Moscovo. Disseram-me para falar com a pessoa à saída do corredor. Chego lá, digo o meu nome à senhora e........ obviamente o voo já nem constava na lista. Ao mesmo tempo, chegou uma senhora que vinha comigo de Lisboa, Russa, exatamente na mesma situação. Num passo apressado, dirigimo-nos para os balcões de voos de ligação, e foi quando me disseram o seguinte: "desculpe, mas o seu avião partiu, de modo que terá de ser reencaminhado para Frankfurt e daí para Moscovo."
O meu pensamento 1 segundo depois da novidade: "Só pode estar a gozar comigo!!!". Enfim, não havia nada a fazer a não ser esperar pelo avião para Frankfurt. Ainda tentei escolher os lugares de ambos os voos, pois prefiro ir o mais à frente possível e no corredor. Nada feito, acabei por ir para Frankfurt a meio do avião no corredor, e o ticket para Moscovo apontava para qualquer coisa como 30D. Como podem imaginar, fiquei no cu do avião. Para além de andar a saltitar pela Europa, apenas chegaria a Moscovo por volta das 11h da noite. Fantástico! Enfim, em Zurique dei por mim a pensar: "Bem que bela praxe de voos com conexão! / Não havia uma maneira mais simples para chegar a Moscovo sem tanta descolagem/aterragem?". Mas do que valia isso? De nada, claro. Teria de ser assim, e não havia nada a fazer. Entreguei-me.
De Zurique para Frankfurt são, aproximadamente, 50 minutos. Viagem super rápida onde tive direito a um belo Toblerone para adoçar o momento. Durante este voo senti-me bastante bem e tranquilo, parecia que já tinha passado uma vida de viagens e ping-pong de aeroportos. Chego a Frankfurt e tive pena de não ficar lá mais tempo, pois gostaria de visitar a cidade. De cima pareceu-me ver edifícios interessantes para visitar. Enquanto esperava que chegasse a hora para o voo de Moscovo, sentei-me num bar do aeroporto e tomei um chá de camomila e comi uma sandes. Passado um pouco, a senhora Russa que estava no mesmo reboliço que eu, passou e eu perguntei se não queria juntar-se à minha mesa e tomar lá a sua refeição. Ela aceitou. Estivemos a falar um pouco, e sempre deu para descomprimir. Aconselhou-me sobre sítios para visitar na sua cidade. Fantástico! Nisto, chegou a hora de embarque, e eu, já cansado, entrei no avião, instalei-me e esperei. Esperámos todos uns 15 minutos até surgir uma voz no intercomunicador a dizer: "(...) estamos com um problema no sistema de arranque do avião, pelo que os técnicos estão a verificar a situação". Eu pensei... "se tivermos que mudar de avião, será que há algum disponível? Irei passar a noite em Frankfurt?". Enfim o problema lá se resolveu e finalmente partimos. Tenho a dizer que a comida e o serviço da Lufthansa é muito acima da média; recordo-me estar a comer um queijo dos alpes com um belo pão de sementes, um crepe acompanhado de uma geleia muito saboroso... E vinho... bem, eu não bebo nada a bordo a não ser água, mas a minha t-shirt não pode dizer o mesmo. Faltava mais ou menos uma hora para chegar a Moscovo, quando apanhámos uns 10 minutos de turbulência suficiente para um copo de vinho tombar e cair-me ligeiramente em cima da t-shirt, manchando-a. Não liguei obviamente a isso no momento, mas após a turbulência passar, dirigi-me à parte de trás afim de falar com uma hospedeira. Precisava de algo para pelo menos absorver o vinho da t-shirt, caso contrário poderia ficar sem ela. Não tinham produto nenhum específico a bordo para tirar nódoas, pelo que a opção foi usar um pouco de sal.
Ao chegar a Moscovo, fiquei super feliz e orgulhoso de mim mesmo. Os meus olhos não verteram uma lágrima, mas quase. "I DID IT!" : )


domingo, 23 de outubro de 2011

Com o Verão cada vez mais próximo, a questão que normalmente se coloca é "vamos de férias para onde?". Depois de alguma análise, eu e a minha namorada decidimos sair de Portugal, mas ao mesmo tempo, queríamos algo não muito longe e que desse para fazer praia. Ultimamente as nossas saídas têm sido para cidades, de modo que para variar, rumámos à ilha espanhola de Palma de Maiorca. Tratámos da viagem através de uma agência de viagens e tudo ficou acordado para a última semana de Julho. Voámos pela companhia flyNiki, tudo correu ótimo durante as férias a não ser o tempo que pregou algumas partidas durante 2 ou 3 dias. Nunca antes tinha estado a banhar-me no mar Mediterrâneo (sem contar com a costa algarvia) e posso dizer que não me importava que a água da Costa da Caparica fosse assim!
Em suma, vida de férias, como toda a gente sabe, é comer, apanhar sol, relaxar, ler e dormir! :)
Mas o maior desafio até ao presente momento ainda estaria para chegar: viagem de trabalho a Moscovo!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Se olhar com cuidado, é realmente incrível a evolução dentro de mim. Ninguém melhor que eu para o reconhecer, certo? A minha empresa tem-me dado oportunidade de viajar e embora fique sempre algo pensativo quando me falam em possíveis saídas de Portugal, tento sempre chegar à conclusão que se trata de trabalho e que se tiver mesmo de ir, então não há nada a fazer.
Depois das férias de lazer a Bruxelas e Amsterdão, viajei a Munique em trabalho. Fui com uma colega de trabalho. Obviamente que não mencionei nada a meu respeito e à forma como lidei e lido com os aviões. A viagem foi tranquila, saímos de Lisboa pela tarde e chegámos ao destino pela noite já. Durante a viagem, recordo-me da minha colega perguntar se gostava de andar de avião e de comentar algo como... "Angelo olha a temperatura exterior ali no monitor, estão ... graus negativos... bem... se houvesse um problema congelávamos logo.....". É impossível prever os comentários de alguém que não nos conhece, afinal de contas ela estava apenas a ser simpática, a meter conversa. Tentei não dar relevância mental a isso e assim foi fluindo para fora do meus pensamentos.
No voo de volta, vim sozinho pois a minha colega ficou lá mais uma semana. No fundo, acabei por perder uma visita aos Alpes e um domingo em Munique. Segui para o aeroporto de transportes públicos, e como é óbvio, dei uma grande margem temporal para o voo. No dia anterior fiz o check-in para escolher um lugar que me agradasse mais. A viagem correu bem, fiz um sudoku e vi os Alpes de cima e ao longe. Muito bonito, certamente a descobrir num futuro! Vinha algo nervoso, confesso. Quando aterrei... "YES!!!"

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A viagem seguinte foi a Bruxelas e Holanda. Aproveitando umas férias de 8 dias, dei por mim a ver de voos para Bruxelas, mais uma vez na TAP. Depois de estudar algumas hipóteses, mais uma vez o meu apego disse para comprar bilhete pela TAP. Contudo, uma surpresa estaria reservada. Eu já andava a pensar que um dia destes teria de voar por outra companhia aérea, uma vez que não fazia sentido nenhum estar apenas restringido a uma. Depois de ter efectuado o pagamento da viagem, constatei que os voos eram operados pela Brussels Airlines, que julgo ser uma companhia low cost, mas com pinta e nome pomposo. Foi assim que fiz um voo por outra companhia desde a viagem de Madrid.
Durante a semana que precedeu a viagem, estive bastante ocupado no trabalho pelo que quase não tive tempo para pensar que iria viajar de avião. Recordo-me que meditei durante a semana, mas nada de especial, porventura 3 vezes nessa semana. Na véspera sei que meditei à noite após um belo duche que fechou a semana de trabalho. Encontrava-me tranquilo e confiante. Um grande amigo esperava-me do outro lado da porta do avião, pelo que só tinha razões para sorrir. Na manhã da viagem, não tive tempo para meditar, mas tive sim o momento do chá de camomila no aeroporto. Recordo-me plenamente de estar acompanhado da minha namorada em frente à porta de embarque e de pensar: "Porque é que estou aqui? Quero-me ir embora!". E é importante partilhar isto contigo! Porquê? Porque apesar de tudo, é normal isso acontecer. Por mais que lide bem e entenda o que tive, é plenamente natural sentir-me mais nervoso e receoso. Mas logo a seguir, nada do que sentia fazia sentido. E, portanto, apenas resta relaxar e  entregarmo-nos ao momento. Quando estava a entrar para o avião, esse sentimento desapareceu, e só pensava nas belas férias que iria experienciar. Sítios novos para conhecer, diferentes línguas para interagir e um amigo antigo que não via faz tempo.
Até então fazia-me confusão olhar pela janela, pelo que sempre tentei sentar-me nos bancos do corredor. O que eu não sabia, é que olhar pela janela e ver o terreno em baixo, ajuda imenso a relaxar! : )
Mas isso partilharei no próximo post.
Com amor.

(Bruno Vilela e eu)

sábado, 18 de junho de 2011

Já passou algum tempo desde que fui a Londres. Depois de ter ido a Madrid, esta foi a minha viagem seguinte. Não queria que o voo demorasse muito, mas, ao mesmo tempo, queria que durasse mais do que daqui para Madrid. Portanto, Londres foi uma óptima escolha: fui visitar um amigo que lá estava a trabalhar, o voo demorava, aproximadamente, duas horas, desconhecia a cidade e no final iria sentir-me melhor comigo mesmo. Mais um troféu e um desafio ultrapassado, com prazer à mistura!
Assim, decidi manter-me fiel à TAP e, mais uma vez, comprar os bilhetes por esta companhia. Digo bilhetes, porque desta vez fui acompanhado pela minha namorada. Iríamos aproveitar um fim de semana grande de quatro dias, de quinta a domingo, com partida na quarta pelo final do dia. Nesta altura encontrava-me com bastante flexibilidade temporal no trabalho, pelo que decidi tirar a quarta e ficar em casa, a preparar-me digamos! Como é óbvio, não prescindi das minhas sessões de meditação em casa e do chá de camomila caseiro. O meu pai levou-nos ao aeroporto, e não era só eu que tinha a barriga às voltas com a excitação de ir viajar. A minha namorada estava igual. O que é bom, afinal somos todos humanos. Viajámos durante a noite e tudo correu bem, como é óbvio. Não vou negar que estava nervoso, mesmo com a minha namorada a fazer conversa e a tentar distrair-me. O que me deu bastante motivação durante o voo foi de facto olhar para o lado e ver as pessoas super descontraídas, como se estivessem sentadas no sofá da sua sala. Às vezes, acho importante procurar o nosso conforto no dos outros! Quando aterrámos, o primeiro pensamento que tive foi... "Consegui outra vez!", e esboçei um sorriso enorme! Partilhei com a minha namorada: "Não imaginas o quão importante isto é para mim..."!..

domingo, 13 de março de 2011

Passava poucos minutos depois das sete da tarde de hoje, quando aterrei em Lisboa, vindo de Bruxelas. Tive de férias durante 8 dias, sendo que 4 passei em Amesterdão e os restantes em Bruxelas, Gent e Brugge. 
Nestes últimos tempos muito se tem passado na minha vida, e espero arranjar tempo para retomar o blog. De qualquer forma, decidi fazer um novo post para assinar mais uma conquista na minha vida. No fundo, mais um troféu para a sala de prémios.
Com amor.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Se um dia forem a Londres, nomeadamente, ao Royal Observatory em Greenwich irão encontrar a seguinte frase numa parede:
"In the nick of time... Time is short... Only time will tell... Time is what you make of it... Time heals all... Time is precious...".
Achei muito interessante e daí anotei para mais tarde recordar.

O tempo não é curto para aqueles que vivem intensamente todo os dias, que sabem desfrutar do segundo e das relações com as pessoas, sejam familiares ou desconhecidos. Ainda assim, não será o tempo curto? Certamente não irei ter tempo para aprender tudo o que desejo (aprender o todo seria impossível?), há actividades que gostaria de experimentar, há pessoas que gostaria de conhecer, há conversas que adoraria explorar, há comidas que nunca experimentei, há sítios onde nunca tive, etc. No fundo, julgo que quanto maior for o apego dentro de nós, mais curto será o tempo, ou seja, há que ter a consciência que não poderei fazer tudo a que me proponho e que tal é natural; tentarei então explorar aquilo que tiver oportunidade de experimentar, de modo a que isso pelo menos tenha valido mesmo a pena.

O tempo é claramente aquilo que nós queremos que ele seja. Somos donos do nosso tempo; mas apenas do nosso, não do dos outros.

Através da paciência e perseverança, conseguimos ultrapassar os nossos problemas. O stress, a irritação e o viver agitado não nos acrescenta nada de positivo, pelo contrário, rouba-nos o tempo que o tempo nos dá. A cura para os nossos problemas está no olhar, no reflectir e na meditação. Estes são amigos do tempo. Ao invés destes, quando se quer apressar qualquer tipo de processo, ganha-se o material, perde-se o verdadeiro.

Sem dúvida que o tempo é precioso, é, por isso, que devemos olhar para ele com um sorriso na cara e não como um abismo. Se temos consciência dele, é porque o estamos a viver, e isso vale por tudo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Chegar a Madrid foi das melhores sensações que já tive na vida. Apesar das lentes dos meus óculos retirarem a cor natural das coisas, tudo para mim era vivo, era cor, era luz. Senti-me melhor, senti-me novo e capaz, senti-me um hércules que acabara de conquistar uma taça. A minha "sala de troféus" foi finalmente inaugurada. Ao longo da minha vida tenho conseguido alcançar os objectivos a que me proponho, entrar na universidade, tirar o curso, etc; mas de facto tais objectivos não podem ser comparados com os sentimentos de felicidade, amor, paz e evolução pessoal/espiritual. São absolutamente disjuntos, nunca se cruzam porque são dois planos paralelos. Estou certo que no final apenas um dos planos me trará a felicidade, bem estar e paz que precisarei no momento. O restante plano fará parte das memórias do passado, poder-me-ei sentir contente por ter feito isto ou aquilo, por ter conseguido x ou y, mas tudo certamente será uma memória geradora de um sentimento fugaz.
Passei o resto do dia em Madrid e no dia seguinte viajei de regresso para Portugal. Desta vez não houve atrasos no voo! À minha espera no aeroporto encontrei os meus pais, e é tão bom ver novamente as pessoas que nós amamos incondicionalmente, não é?


Eu amo-vos a todos.
: )

sábado, 24 de abril de 2010

Alguém que esteja desse lado com problemas semelhantes seguramente que se questiona se eu por acaso não pensei em levar medicamentos para tomar caso me sentisse mal durante a viagem. Pois bem, é verdade que pensei nisso e curiosamente quase abandonei esses pensamentos à medida que a data de voar se aproximava. Para quê "estragar" tudo quando o processo já vinha sendo longo? A importância do momento está em vivê-lo, independentemente do estado físico ou emocional. Vivê-lo tal como é. Se o medo surgir, primeiro tomar consciência do mesmo e depois deixá-lo estar! Portanto, cada vez mais tinha a certeza que levar remédios para bordo seria regredir e, no fundo, não estaria a ser verdadeiro para comigo mesmo. Se até então nunca tomara medicamento algum, porque seria agora que o faria?
Reconheço que este tipo de consciência e confiança é porventura arrojado para certas pessoas, até porque podem estar dependentes de medicação. O meu maior conselho neste caso é para deixarem a medicação de pronto, uma vez que esta apenas serve de máscara para uma consciência da realidade tal como ela é. A medicação apenas atrasa o verdadeiro processo de superação da dificuldade e ignorância. Gostaria imenso que todas as pessoas que sofrem de desordens psicológicas relacionadas com fobias e medos não tivessem sequer a tentação de começar a tomar medicação como forma de recuperação. Também julgo que o erro em parte pode estar do lado do psicólogo por facilmente permitir o uso de tais substâncias, em vez de sugerir um processo faseado de procura da origem do problema, consciencialização e superação do mesmo.
Entrei no avião e fui prontamente cumprimentado pelo comandante do avião e hospedeira. Jamais esquecerei a cara daquele homem bronzeado, meia idade e sorriso branco leucócito. Procurei o meu lugar e instalei-me. Encostado à janela encontrei uma criatura algo fria, de fora, pouco faladora e penso que aborrecida com alguma coisa. Obviamente que tentei estabelecer contacto afim de me acalmar, uma vez que já estava a sentir alguma excitação interna. Desloquei duas saídas de ar condicionado e direccionei-as para a minha cabeça para sentir algo vivo e confortável. Ela respondeu-me que conhecia bem Madrid, mas remeteu-me rapidamente para o livro que tinha na minha mão como que a sugerir um fecho de conversa. Eu percebi e calei-me até que o avião começou a mexer. Entretanto, não tive interesse pelo vídeo de segurança e foquei-me ora no livro de Madrid, ora na revista de bicicletas. Tudo calado menos o meu coração. Olhei para o lado e seguia um grupo de três pessoas tranquilamente sentadas, em que uma delas até já dormia ("Como será possível já estar a dormir?"). Suavemente o avião começou a andar em linha recta até que um impulso "herculeano" me agarrou ao sítio; estaria agora prestes a tirar os pés de terra firme e partir rumo ao céu e à cidade espanhola. Lembro-me de estar a pensar... "Olha já levantei... e não custou nada", mas afinal ainda estava no chão. Apenas percebi que tinha levantado quando senti uma panóplia de forças agressivas sobre o meu corpo e cabeça. Por breves segundos, perdi totalmente a orientação ou a noção de estar ali sentado devido à "força g" a actuar no meu corpo. Depois disso senti-me estranho em estar a subir para as nuvens e jamais queria olhar para a janela e observar o que se estava a passar. Agarrei-me a frases de confiança que fui absorvendo, como por exemplo a do meu amigo Maurício, e larguei-me de tudo.
Estaria a mentir se afirmasse que fiz a viagem mais tranquila do mundo. Fui sempre alerta pois embora já tivesse voado em 2005, todo aquele espaço parecia novo e por conhecer. De volta e meia, o coração apressava-se mais, como se tivesse a correr para apanhar o comboio prestes a partir, com  um barulho diferente dos motores ou com ligeiro abanar do avião. Fui alternando entre os utensílios de distracção que levava comigo, nunca estando mais de 15mins com um. Estava claramente excitado mas ao mesmo tempo só pensava... "Estou a conseguir, estou a voar e não tarda muito estou em Madrid! Vou conseguir!". Quando o avião abanava um pouco, olhava para a fotografia que guardara dentro do livro do Eckhart Tolle; levei uma fotografia em que constava eu vestido com o traje académico que comprei de propósito para tirar foto com o meu avô, os meus pais e possivelmente os meus dois cães. Olhar e contemplar a minha mãe e o meu pai dava-me confiança para ser forte e enfrentar o meu desafio corajosamente. Tentei por uma ou duas vezes focar os ponteiros do relógio do pulso do homem do meu lado, mas estavam num ângulo em que não podia fazer mais nada a não ser relaxar e esperar para estar em Madrid.
De facto, esta vivência da viagem deu-me uma maior abertura face à impermanência das coisas e a como não podemos desesperar e fomentar pensamentos de querer sair do sítio, desaparecer dali, quando estou num espaço fechado e condicionado. Há que experienciar isso e ficarmos felizes pelo objectivo final de estar ali: neste caso, viajar e conhecer sítios novos. Mesmo que esteja agitado, sei que isso não será permanente e que portanto, primeiro depende da minha, e só minha, interpretação da realidade e, em segundo, depende de causas e efeitos.
Com amor.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Os dias foram passando e passando até que dei conta que faltava uma semana para voar. Começei a tentar organizar as coisas que iria levar comigo. Pensei em tudo que fizesse com que a mente ficasse ocupada durante a viagem. No fundo sabia que porventura não iria usar as coisas que levaria, mas ao fazê-lo também estruturava mais na minha cabeça que a viagem seria inevitável e que seria algo que no final trazer-me-ia um enorme prazer. Voar iria implicar conhecer uma nova cidade e sítios diferentes, bem como ultrapassar mais uma barreira na minha mente. E bem que estava a precisar de testar o que até então tinha vindo a trabalhar. Pois bem, decidi levar comigo um livro de Eckhart Tolle que na altura estava a iniciar, umas folhas A4 em branco, uma caneta e o livro de Madrid da American Express emprestado pelo meu caro amigo e vizinho André. Durante essa semana senti-me algo agitado interiormente; por momentos imaginava como seria a viagem ao pormenor, mas de pronto tomava consciência disso mesmo, abraçava essas emoções e deixava o pensamento fluir sem deixar rasto.
Na ante-véspera, ou algo assim do género, da minha viagem, tive um jantar com o meu grande amigo João Maurício no qual tivemos uma breve conversa acerca do assunto. Da mesma guardo a seguinte frase: "Puto mas tu sabes que nada vai acontecer, não é?" E riu-se de seguida. Esta passagem de confiança é algo que nunca irei esquecer. Um dia abandonarei este corpo e com ele partem todas as imagens de vivências, sendo esta demonstração de amizade e transmissão de confiança uma das que certamente irei conservar até esse momento subtil, o da despedida que não tem necessariamente de ser mau.
Na manhã do voo acordei bem cedo para estar com duas horas de antecedência no aeroporto. Tive tempo para uma última breve meditação antes de sair de casa.
Recordo-me de estar no aeroporto a sensivelmente uma hora e meia do voo, de mochila às costas e com a bagagem de mão. Não era uma bagagem de mão qualquer, era a que a minha mão suportava com vigor e expectativa; a mochila tocava-me os ombros suavemente e concedia-me uma coragem adicional que por palavras não conseguirei explicar. "Bom dia, é um chá de camomila, por favor." E assim estava eu prestes a embarcar e a aproveitar o magnífico aroma do chá. Dizem que faz bem para acalmar. Ainda tive tempo para mais uma dose de chá. Decidi então dirigir-me para a porta de embarque e quando apresento o bilhete, sou informado que o meu voo foi cancelado e que portanto passaria para daí a duas horas. Enfim, que mais me poderia acontecer?
Tive de esperar na sala com alguns passageiros nas mesmas condições que eu. Calhou mesmo em má altura pois a tripulação da TAP estava em greve. Sucederam-se alguns telefonemas, especialmente para a minha mãe. A conversa normal que qualquer pessoa teria em semelhantes condições. O grave seria perder duas horas em Portugal, porque só iria ficar em Madrid por uma noite. Teria assim ainda menos tempo para ver alguma coisa da cidade. Via os aviões à minha frente e tentava ambientar-me ao barulho dos motores.
Enfim, a hora finalmente chegara; finalmente porque dentro de mim havia agora um misto de expectativa, medo, vontade e alegria. Só queria chegar a Madrid. Apresentei o bilhete, dirigi-me para o autocarro e sentei-me. Aproveitei para abordar a revista de bicicletas que tinha comprado na zona de tax-free do aeroporto e começei a folheá-la enquanto esperava que o autocarro enchesse. Começei a sentir uma ligeira agitação mas de pronto disse para o meu corpo de dor: não vale a pena isso agora, eu vou para Madrid. Ainda tive tempo para um último telefonema para a minha mãe enquanto saia do autocarro em direcção às escadas que subiam até à porta do avião. Gostaria de me recordar do nome do avião!

terça-feira, 23 de março de 2010

Estando cada vez mais consciente da realidade e bem comigo mesmo, dirigi-me ao aeroporto de Lisboa afim de comprar um bilhete de avião por sugestão da Daniela Cosme. O destino escolhido teve por base a duração da viagem. Cinquenta minutos separam as duas capitais, Lisboa e Madrid. Dirigi-me ao balcão da TAP e procedi à compra do bilhete. Quando o toquei, senti claramente que seria um acontecimento que jamais iria esquecer.
Por essa altura já tinha ideias de escrever um blog, mas de certa forma não me sentia à vontade para partilhar a ignorância onde estive mergulhado com outras pessoas, uma vez que não estaria a ser inteiramente sincero, nem comigo nem com o leitor. Antes de mais, precisava de sentir e viver a experiência daquilo que mais me causava transtorno e inquietação, andar de avião. A viagem seria feita sozinho e portanto o desafio era enorme!
Durante as sessões de psicoterapia, tinha plena noção que o derradeiro objectivo final seria chegar a um nível de consciência onde comprasse um bilhete de avião e embarcasse para um destino, no fundo, deixasse para trás uma panóplia de condicionalismos de origem mental que me vinham a causar uma não-vivência. Pois bem, tinha chegado a esse ponto, e ali estava eu de bilhete na mão com uma vontade comedida de partir.
Seguiram-se dois meses de psicoterapia e de contemplação do bilhete em cima da secretária de madeira. Umas vezes enchia-me de vontade e coragem e dizia para comigo "já tenho o bilhete, eu vou conseguir!", outras onde pensava "o dia está a chegar!..".
Embora por vezes tivesse dúvidas e receio em relação ao que se iria passar, tinha a certeza que queria fazê-lo, e isso ajudava a dar-me força e determinação. Queria mudar e deixar a sonolência!
Achei importante comprar o bilhete numa companhia aérea que igualmente me transmitisse confiança, pela sua história e sucesso; daí ter escolhido a TAP. Embora isto represente algum apego, não julgo que seja relevante nesta fase, pois toda a energia tem de ser criada no sentido de uma mente criadora de pensamentos positivos e motivadores. O extra de confiança da companhia aérea penso que só ajuda.
Nesse dia, recordo-me ainda de vir a conduzir o carro de volta para casa e de atravessar a ponte Vasco da Gama. Julgo que estava um dia algo nublado, mas seria o tempo o culpado pelas lágrimas? O bilhete sorria no bolso, o céu algo tímido e as minhas emoções uma montanha-russa. O que um bocado de papel foi capaz de me fazer nesse belo dia!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Tenho tido pouco tempo para escrever e até alguma preguiça, mas deixo aqui algumas sugestões de leitura:

Tolle, Eckhart. O poder do agora. Pergaminho, 2001.
link para bertrand.pt 

Tolle, Eckhart. Um novo mundo. Pergaminho, 2006.
link para bertrand.pt

Sharma, Robin. O monge que vendeu o seu ferrari. Pergaminho, 2004.

Para mim os livros de Eckhart Tolle são magníficas obras de crescimento espiritual. Aconselho vivamente a começarem pelo primeiro da lista acima. Pessoalmente, identifiquei-me imenso com a sua escrita e com os problemas descritos, o que contribuiu imenso para o entendimento de certos aspectos e para o processo de superação. É uma bíblia de energia positiva e de bem-estar. É certamente um livro que se deve adquirir e absorvê-lo sempre que necessário. Os livros de Eckhart Tolle são fáceis de encontrar em qualquer livraria, já o de Robin Sharma é um pouco mais difícil.

Outra pessoa bastante conhecida no mundo do crescimento espiritual é Osho. Os livros dele são também muito fáceis de encontrar em qualquer livraria. Tenho de admitir que não me identifiquei tanto com a sua escrita de forma que ainda só tenho um livro. Na realidade os livros não são de sua autoria. Enquanto vivo, Osho dava inúmeras palestras e conferências pelo mundo fora, onde as pessoas gravavam essas mesmas conversas e agora aproveitam-se das gravações para publicarem livros.
Eis o livro que tenho dele:

Osho. Consciência. Pergaminho, 2002.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Auto-conhecimento e sabedoria, dois conceitos absolutamente complexos. A prática de meditação oferece a possibilidade de me conhecer, de entender a minha verdadeira natureza, ajuda-me a ganhar discernimento e com isso sabedoria. No início da prática não se consegue perceber bem o que se está ali a passar, o tempo que se segue à prática leva-nos a levantar algumas questões acerca do que se passou, será razoável estar fisicamente parado num sítio neutro por, digamos, trinta minutos e ter consciência que a mente não pára? Sem catalisadores externos de agitação a não ser pensamentos relacionados com acontecimentos passados, mesmo assim a mente parece não parar. O silêncio incomoda a mente destreinada e não observada. A mente agitada não quer descanso, quer ser dona e senhora da situação; os pensamentos por ela gerada alimentam o nosso corpo de dor de uma forma absurdamente subtil. Embora pratique à menos de um ano, tenho agora plena consciência do meu corpo, da respiração e através da observação da mente consigo manter-me, ainda que por alguns minutos, num espaço e tempo infinitos em que não há mente, não há medos, apego, aversão, condicionalismo, sentimento de isolamento e solidão. O momento torna-se assim harmonioso e sente-se uma paz incomparável.
Penso que é deveras importante não definir metas diárias, mensais ou anuais para a prática, nomeadamente, propormo-nos a atingir determinado tipo de estado ou nível de consciência, uma vez que isso apenas gerará agitação e ansiedade. No fim, muito provavelmente, a meta não será atingida e começaremos a gerar um sentimento de incapacidade, desprezo ou antipatia pela prática. Começar cada sessão afim de oferecer tudo e não querer receber nada em troca, é assim a minha atitude. Contudo, é natural que se diga, "vou-me sentar no meu cantinho e tentar gerar energia positiva interna e alguma paz"; tal pensamento não é de todo incompatível com a atitude a ter, seria sim caso dissesse "vou meditar porque sei que no fim estarei calmo e em paz". Estou claramente a antecipar os benefícios da prática e no fundo a projectar-me no futuro, e tal como já referi, viver no futuro é sinónimo de uma mente ansiosa, agitada e stressada que tem uma probabilidade baixa de sucesso relativamente aos objectivos propostos.

Question:
What is Meditation?

Answer:
Meditation is a conscious effort to change how the mind works. The Pali word for meditation is 'bhavana' which means 'to make grow' or 'to develop'.



Tradução:
Pergunta:
O que é a meditação?

Resposta:
A meditação é um esforço consciente para mudar a forma como a mente funciona. A palavra em Pali para meditação é 'bhavana' que significa 'fazer crescer' ou 'desenvolver/evoluir'.

Para mais informações sobre o significado de meditação podes ainda consultar o link da União Budista Portuguesa meditação.

O esforço e empenho compensam e em poucas semanas se toma consciência que a prática da meditação é algo pessoal e quase impossível de cessar. 

Com amor.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Num belo dia (não sei se de manhã ou de tarde, mas o que interessa isso) decidi pesquisar sobre a filosofia budista afim de perceber melhor do que se tratava. Este sentimento surgiu daquela imagem comum que temos de monges sentados de olhos fechados dentro de um magnífico mosteiro em que predomina a cor vermelha, o pavimento, um soalho suave e compassivo, e as vestes igualmente vermelhas que pressupõem um passado histórico e disciplinado. As árvores lá fora dão um algodão rosa que ao mais subtil sopro de ar caem e inundam o chão formando um ambiente desigual. No fundo uma imagem que facilmente se conecta a conceitos como o cultivo de calma e paz pessoais. Percebi que precisava de ir um pouco mais além e explorar uma nova forma de estar e viver a vida. A maneira budista de viver parecia ser interessante e porventura era o que estava a precisar. Assim, decidi inscrever-me num curso de Meditação Tibetana na União Budista Portuguesa com o professor Paulo Borges. Curiosamente, surgiram mais pessoas do que eu imaginaria; talvez fossemos umas 20 pessoas numa sala que apesar de tudo não necessita de mais espaço do que o ocupado por tapetes e pequenos bancos de esponja rija azuis, ambos pouco confortáveis. Por vergonha, abordei uma cadeira e deixei-me ali ficar até ao intervalo chegar. O curso iniciou com uma breve introdução e enquadramento da filosofia budista e com aquilo que poderíamos esperar das três sessões. Seguiu-se a prática. No intervalo divorciei-me da cadeira e tomei o tapete mais próximo. Foi algo doloroso o impacto dos ossos dos pés e anca no chão, a torção dos joelhos e abertura das virilhas. No fim das três sessões achei que jamais poderia parar de praticar meditação. Seguiu-se uma aula grátis em que me envolvi com a turma semanal de meditação e reconheci que tinha muito trabalho pela frente, na adaptação ao chão e postura, e no desenvolvimento da prática como forma de auto-conhecimento e libertação de um estado de ignorância.
Começei a praticar no dia 13 de Junho de 2009 e desde então nunca mais parei. Todos os dias sinto necessidade de me sentar naquele canto de casa específico para o contacto comigo mesmo e dar mais um passo rumo ao total auto-conhecimento de mim mesmo. Não se trata de crenças, de santos ou de amuletos, de religião nem de sair para fora com vista concretizar e desenvolver paz, amor e compaixão por todos os seres vivos sem excepção. Trata-se de entrar cada vez mais para dentro de mim mesmo e de reconhecer que toda a negatividade é gerada dentro de mim e portanto a "cura" terá única e necessariamente de estar no interior.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ter memória da evolução pessoal é magnífico. Eis um texto que escrevi há uns meses atrás:

"O meu corpo de dor tenta-se alimentar a todo o custo de negatividade. A minha mente leva-me a ter pensamentos irrealistas e negativos mas aos poucos e poucos vou tomando consciência que a minha mente não sou Eu. Eu sou mais que isso, sou muito mais que pensamento, mas desconheço a sua totalidade. É óbvio que não quero aprisionar a minha mente pois isso também seria patético. Se conseguir criar um fluxo de pensamentos que seja intemporal, que apenas partilhe o momento presente como verdade absoluta e única, tenho plena certeza de que Eu ganharei imenso com isso e, no limite, atingirei a iluminação. É também verdade que agora reconheço-me mais sábio e fazendo uso de um melhor bom senso face a tudo o que me é exterior. A Daniela diz que já estou curado e eu percebo-a, contudo o meu corpo de dor ainda está presente. A partir do momento em que eu trago para a consciência todos os meus medos e ansiedades, a cura está realizada. Ainda não atingi este ponto e, portanto, o corpo de dor ainda existe. E por isso mesmo ainda continue a sentir ligeira ansiedade aqui e ali... A única maneira de ultrapassar é não fomentar o devaneio da mente para pensamentos negativos, de morte, pessimistas e irrealistas. Penso que é o processo mais difícil de todos. O meu corpo está habituado a um estado de ansiedade sempre que algo me transtorna. Estou viciado nisso. Há algo em mim que activa a reacção por puro prazer e hábito. Não tem mal, o problema é a forma como interpreto a reacção. Portanto a solução julgo que passa pela perseverança e coragem, no cultivo do pensamento positivo perante qualquer tipo de coisa e acreditar que acima de tudo, Eu não sou apenas a minha mente. Ela faz parte de um todo (que ainda desconheço) e que só faz sentido usá-la em prol de mim e não contra mim."


O termo iluminação que aparece referenciado no texto surge como o culminar de um processo espiritual. Não se trata de religião, mas de espiritualidade. A espiritualidade nasce através do amor e evolui com o cultivo do conhecimento acerca de si próprio. Não se deve associar de todo a espiritualidade a religiosidade pois não se trata de acreditar nem de se identificar com crenças que são necessariamente externas ao Eu como os santos, os profetas, os padres. É através do olhar atento para o interior do Eu próprio que se evolui para um estado de perfeita consciência, paz, harmonia e sabedoria. Tudo o resto que resulta de uma fuga para o exterior produz ignorância e por sua vez infelicidade, apego, aversão, dualidade, sentimento de culpa, isolamento, medos.

Os budistas assumem como principal objectivo atingir o estado de nirvana, ou iluminação.

"Most people have heard of nirvana. It has become equated with a sort of eastern version of heaven. Actually, nirvana simply means cessation. It is the cessation of passion, aggression and ignorance; the cessation of the struggle to prove our existence to the world, to survive. We don't have to struggle to survive after all. We have already survived. We survive now; the struggle was just an extra complication that we added to our lives because we had lost our confidence in the way things are. We no longer need to manipulate things as they are into things as we would like them to be."

in buddhanet

Tradução:
Muitas pessoas já ouviram falar de nirvana. Tem vindo a ser comparado com a versão ocidental de paraíso. De facto, nirvana significa apenas cessão. É a cessão da luxúria, agressividade e ignorância; a cessão da luta para tentar provar a nossa existência ao mundo, para sobreviver. Afinal de contas nós não temos de nos esforçar para sobreviver. Nós já sobrevivemos. Nós sobrevivemos agora; a luta foi apenas uma complicação extra que adicionámos às nossas vidas porque perdemos a confiança na forma como as coisas são. Nós não precisamos mais de manipular as coisas tal qual como são afim de as obtermos à nossa maneira.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Não há palavras para descrever aqueles momentos em que sentimos estar a começar a ganhar algum terreno face aos nossos medos e fobias. Gradualmente, somos presenteados com pequenas conquistas, extremamente valiosas para o processo de estruturação mental. Posso dar alguns exemplos de tais conquistas: passar/estar num sítio menos agradável e nada acontecer ao nível emocional e comportamental, recordar/pensar algo extremamente penoso/desconfortável e mesmo assim ficarmos serenos e calmos, desafiarmos os nossos próprios limites ousando fazer aquilo que gostamos, e que só não o fazemos por medo. Acima de tudo, há que depositar enorme confiança nesses momentos e recordá-los sempre que sejam substituídos por outros menos agradáveis. O pensamento deve ser: "Eu já o fiz, nada me aconteceu e portanto nada me acontecerá se voltar a repetir tal experiência. Tenho consciência que se trata do meu corpo de dor a condicionar-me, a impor-me limites e a tirar-me o desejo de viver com o coração".

"Nunca nada acontece no passado; acontece no Agora. Nunca nada acontecerá no futuro; acontece no Agora."

À medida que alimentamos cada vez mais estas conquistas, mesmo que efémeras, o nosso corpo de dor torna-se mais pequeno. Ganhamos espaço interior, confiança e determinação. Ao mesmo tempo, o próprio corpo de dor vai tentar sobreviver, exactamente como qualquer outra identidade, mas só poderá consegui-lo caso exista identificação inconsciente com ele. Vai tentar alimentar-se de energia negativa que provenha de pensamentos e com isso criar mais dor e reforçar a sua posição como dono do corpo e da mente. Assim, é fundamental ganhar confiança, determinação e espaço interior para que se veja o pensamento, se sinta a emoção e se observe a reacção. Todo este exercício resulta num grande zero se a mente estiver inobservada.

Numa mente inobservada, as emoções florescem sem termos controlo sobre as reacções e sobre o momento, pelo que é exactamente por aí que deveremos começar a focar a nossa atenção. Para além do exercício de escrevermos num caderno tudo o que se passa aquando de uma situação desagradável e de tentarmos recordar uma situação semelhante em que tenhamos estado "bem", a tarefa principal é estar constantemente atento à nossa mente, aos pensamentos gerados, e finalmente tentar controlar o fluxo do pensamento, isto é, criar um hiato no caudal da mente. O conceito de "controlar os pensamentos" é, de facto, o primeiro passo mais importante para o crescimento interior e a superação da identificação com a mente / medo / fobia.

"A identificação com a mente dá mais energia à emoção; a observação da mente retira-lhe energia. A identificação com a mente cria mais tempo; a observação da mente abre a dimensão intemporal."

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os dias seguiam-se uns aos outros, e o meu caderno ganhava cada vez mais corpo. Uma nota ainda para este tipo de "técnica": escreve tudo aquilo que sentires e pensares; nunca apagues, re-escrevas, ou mesmo leias quando acabares (tipicamente coincide com "a passagem do barco para lá do cabo das tormentas!"). Sugiro que partilhes mais tarde com alguém que ames incondicionalmente ou com quem te sintas plenamente à vontade para te expores. No meu caso, foi a Daniela. Este simples exercício foi mesmo muito importante para mim. Lembro-me de estar confortavelmente sentado naquela pequena divisão de casa estéril, intocável e inviolável, e de estar a ter plena consciência de toda a simplicidade de atravessar a ponte de comboio. Como poderia isso representar uma ameaça para mim? A partir do momento em que começa a surgir esta tomada de consciência interior, a transformação acontece. Gradualmente, mas começa! Outra coisa que também gostaria de referir é que a partir de um determinado momento, o caderno torna-se um melhor amigo e um óptimo escape ao processo de aparecimento de ansiedade/medo provocada por um acontecimento/acção/evento, ou um pouco pior, ao processo de crescimento da ansiedade/medo.
Portanto, qualquer que seja o teu problema, tenta arranjar um refúgio dentro de um caderno. Verás que gradualmente irás mudar a tua atitude perante a adversidade que só tu és dono(a) e criador(a).


Há dias em que nos deslocamos na rua e tudo nos parece simples, bonito, magnânimo, colorido. Porém, outros há em que tal não se verifica e onde, aos nossos olhos, tudo parece um caos, enfadonho e triste. Também há horas em que sentimos que esta dualidade existe. Há igualmente minutos assim. E talvez até segundos. Acordamos e passamos longos minutos super descontraídos e sem stress, a menos que o nosso patrão nos ligue a exigir mil e uma coisas para fazermos durante esse dia. Nesse momento, o dia acaba, podíamos voltar para a cama, e voltar a acordar só no dia seguinte, agarrados à esperança que o patrão não fosse ligar novamente pela manhã. Vale a pena o desperdício de um dia, qualquer que seja a circunstância de vida, ou neste caso, a circunstância do dia? Não seremos capazes de mesmo assim aproveitar um pouco melhor esse mesmo dia que para a maioria das pessoas é trágico, desconfortável e stressante? Eu tenho a certeza que sim. Certamente já tiveram um dia assim. No final desse mesmo dia, chegam a casa e para além de trazerem o cansaço, trazem também o mau-humor e uma ânsia por conflito com aqueles que menos têm a ver com a situação. O queixume do dia terrível é um hábito; o espreguiçar no sofá ou o caminho direitinho para a cama é uma realidade comum. Mas será que não poderíamos usar este pequeno tempo que encerra o dia para nos revitalizarmos, recuperarmos energia positiva e irmos finalmente para a cama em paz? Será que é preciso ficarmos ancorados ao tempo que decorreu desde que saímos de casa até termos chegado? Será que isso não nos trará apenas infelicidade, ainda mais irritação, stress e desconforto? Eu tenho a certeza que sim. Este tipo de conflito externo com as circunstâncias da vida provocam uma profunda desordem ao nível interior, e o pior é que habitualmente passa despercebida até tudo culminar num problema. Nessa altura é tarde, e um processo longo tem de ser desencadeado afim de recuperar o equilíbrio interior. Esta energia negativa foi alimento para caixinhas até então adormecidas; fazendo com que finalmente apresentassem a sua forma natural de expressão negativa para o Ser através de fobia, medo, ansiedade, depressão e dependência.

Com amor.

sábado, 28 de novembro de 2009

Numa das sessões, a Daniela sugeriu-me uma técnica que contribuiu de forma muito clara para a tomada de consciência da minha ignorância. Chamo-lhe ignorância porque quando experimentamos algo de forma não-consciente, isto é, ligando a realidade com os nossos condicionalismos, dependências e apego, não se trata de uma versão fidedigna do que realmente as coisas são. Trata-se apenas de uma distorção, e em que a mudança está sempre disponível aqui e agora, e, portanto, daí o uso do termo ignorância.
Escrever num pequeno bloco de notas tudo o que estiver a sentir e o que me passar pela cabeça assim que estivesse a atravessar a ponte. Este foi o desafio. Segue-se a minha primeira anotação e em que não consegui resistir, começando a escrever assim que me sentei na estação de Entrecampos:

28/04/2009; 20h44

Tomei liberdade de começar a escrever... Vinha a chegar à estação e o bocejar apareceu. Típico e não sei porquê. Vinha a imaginar uma composição na minha cabeça, a imaginar o que iria sentir... O comboio com menos gente dá-me mais calma, não sei porquê! A ideia do comboio parar a meio da ponte veio, assim que ele abrandou um pouco. A cabeça com a pressão normal do dia-a-dia, a habitual.... a pressão! O comboio mais cheio deixa-me mais desconfortável, mas felizmente hoje não é dia. Já senti uma ligeira pressão no peito mas passou com a escrita. Respiro fundo para tentar aliviar ou prevenir a ansiedade... Já passei a última paragem e a ponte aproxima-se. Estando isto presente em mim,este pensamento começo-me a sentir ansioso, a suar das mãos e dos pés, sinto o cintilar, pressão no peito... Muita pressão no peito ao ver as baias do início da ponte... ele abranda e piora... não penso na morte, apenas estou tenso... estou na ponte e a tentar esconder um indício de ansiedade da senhora ao lado; quando penso que passo na ponte fico com pressão no peito; penso no estômago.... aparentemente está a correr bem... e não tentei/pensei em controlar.... bem talvez no início da ponte. Estou suado dos pés!! Sinto agora uma enorme pressão nas pernas, ou melhor, estava muito tenso nas pernas e relaxei de seguida... já passou a ponte, mas agora o que se segue é a pressão na cabeça.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Algo que acho ser comum a pessoas com problemas no geral é o sofrimento em silêncio. É sempre melhor o sofrimento desta forma, porque jamais queremos aceitar que temos algo de errado. A vergonha em fazê-lo é também um inibidor nato do desabafo. Os meus amigos das manhãs de sábado passados a andar de bicicleta na Serra da Arrábida não representavam o meu círculo de amigos mais próximos, e embora sejam mais velhos do que eu (o que poderia ser mais desinibidor), algo me condicionava as cordas vocais.  Eu não fui diferente do comum dos mortais e, portanto, sofri em silêncio e sempre que solicitado, defendia-me com um sorriso mudo, áspero e pesado, afim de demonstrar que estava a adorar o momento. "Epah espectáculo, esta descida foi mesmo brutal! / Adorei este trilho, temos de repetir!"

Passado pouco tempo, interrompi o desporto matinal por já não me sentir confiante fisicamente. A preguiça foi só uma forma carinhosa para esconder o medo que tinha de enfrentar o corpo e a mente frágil. Hoje em dia, posso adiantar que eles continuam sem saber porque deixei de ir andar de bicicleta. Claramente trata-se de uma evidência do poder do ego. Um dia contar-lhes-ei o porquê, e independentemente da sua reacção, o que interessa mesmo é minha revelação e sinceridade para com eles. Eu devo-lhes isso e, acima de tudo, eu devo isso a mim próprio.

O sofrimento silencioso é algo de que se tem plena consciência, qualquer que seja o estado em que estejas. Assim, urge fazer algo para tentar contrariá-lo, uma vez que é através do desabafo que se começa a criar espaço interior muito importante para ultrapassar os problemas. Obviamente que não é preciso andar na rua a fazer publicidade acerca dos nossos sentimentos, pensamentos, dificuldades e carências, mas pode-se começar com aquela pessoa/animal que amamos incondicionalmente. O pai, a mãe, a irmã, a avó, o avô, o cão ou o gato. Falo em animais porquê? Bem sei que não vais obter respostas, mas o simples facto de expulsares cá para fora essa energia negativa, por si só já é um bom começo.

Sugiro a leitura de um livro chamado "Morrer de olhos abertos" da autora Marie de Hennezel para quem se sentir menos confortável com o tema da morte. Foi o primeiro livro que a Daniela Cosme sugeriu-me e foi muito importante, uma vez que me abriu o horizonte e adicionou alguma cor ao tema morte.

domingo, 15 de novembro de 2009

O combinado foi aparecer a cada duas semanas para começar a escavar progressivamente até à fonte dos meus problemas e, assim, descobrir o porquê dos meus medos e fobias. Começei a aperceber-me de que a maior parte dos dias de consulta representavam uma conquista. Nas primeiras sessões lembro-me de que o sentimento pode-se resumir a um certo alívio, embora tivesse consciência que pouco tinha mudado, pois a pressão na cabeça estava constantemente presente e todas as situações e lugares que me faziam entrar em ebulição interior continuavam a ter o mesmo efeito sobre mim. Infelizmente, esse alívio era absurdamente curto, o que estragava totalmente a magia do momento e um sentimento de alegria interior. Como seria possível algo tão simples como apenas falar com uma pessoa, trazer-me, mesmo que por breves minutos, uma paz de espírito inqualificável? Valia a pena investir nisso! E, enfim, como se costuma dizer, de grão a grão, enche a galinha o papo. Posso dizer que foi assim que começei a criar uma certa dependência para com aquela divisão de casa isolada do mundo, bem como daquela presença em frente a mim.

Dei por mim a desejar que chegasse o dia da sessão e, passado pouco tempo, passei para uma frequência semanal às sessões. É engraçado em como os sessenta minutos começaram gradualmente a encurtar: na primeira sessão, existe aquela enorme inércia em dizer o que sentimos e o porquê de precisarmos de ajuda, o que no fundo se resume a abrir o coração; mas depois, tudo fica bem mais fácil, e é realmente apenas nessa altura em que se começa a apreciar o momento e a tomar consciência de determinado tipo de "caixinhas" que constituem a nossa mente.

Na minha opinião a nossa mente tem uma grande quantidade de caixinhas que estão ligadas a determinado tipo de emoções e sentimentos e que se revelam sempre que os nossos pensamentos nos conduzem até elas. Reagimos de uma forma x, sentimos de uma forma y, e vivemos condicionados de uma forma z, apenas porque estas caixinhas estão a ser alimentadas por energia que provém dos nossos pensamentos. Se pensarmos em como somos fracos e indefesos, a nossa caixinha dedicada para isso mesmo, ganha força e sente-se imensamente feliz por estar a receber uma óptima refeição. Por consequência, nasce corpo fora um sentimento de inferioridade, incapacidade, pequenez e vulnerabilidade. Se pensarmos que o elevador que estamos a apanhar pode cair se algo correr mal, a respectiva caixinha, faz com que, eventualmente, o nosso corpo trema ou sintamos uma agitação interior. Tudo depende da existência da caixinha e da energia que permitimos ceder-lhe. Tomar consciência das caixinhas e dos nossos pensamentos representa o desafio supremo para qualquer pessoa que sofre de fobias e medos. Tudo aquilo a que vulgarmente dizemos como, "eu sou", depende da nossa mente e da energia que fornecemos às nossas caixinhas.

O que realmente todos nós somos não pode ser expresso por palavras, porque isso já seria limitar o Ser a uma produção mental de identidade. Mas falemos disto mais tarde.

Com amor.

sábado, 7 de novembro de 2009

Naquele dia especial senti um misto de vazio e determinação. Dei por mim a descer a calçada da Alameda Henriques Dom Afonso, e o que eu mais desejava era perceber o que se passava realmente comigo. Embora fosse só uma sombra que me vigiasse as costas, eu não ia sozinho. A pressão na cabeça lá me acompanhava como sempre tinha a amabilidade de fazer. Não me recordo de ter sentido explosões corporais devido à nova experiência que estava prestes a "viver", mas lembro-me sim de que tinha plena convicção do que representava aquela bela tarde na capital. A porta de ferro estava pintada de verde escuro e por ela, certamente, já passara muitas pessoas, muitos egos desejosos de controlar cada vez mais a mente do hospedeiro. No interior do prédio vislumbrei um elevador à antiga, com aquela grade vistosa e barulhenta. O trinco abriu-se e eu entrei. Lá dentro encontrei uma rapariga. Sentei-me e esperei pelo momento. Na minha cabeça deambulavam pensamentos do género: "Como será a Daniela?", "Que tipo de espaço será?". Tudo naquela divisão da casa apelava a um sentimento de paz e relaxamento. Peguei numa revista que por ali habitava e passado poucos minutos surge a Daniela. "Ângelo?"

O espaço da consulta era pequeno, a cadeira super confortável posicionava-me fulminantemente em direcção à Daniela. Desconhecia o que estava por detrás de mim, contudo conseguia ver um pátio, um pouco baldio, com árvores ao meu lado esquerdo. Senti-me ligeiramente apertado, mas ao mesmo tempo confortável, pois o espaço sugeria um certo isolamento do mundo. Ali eu deveria ser capaz de abrir o meu coração e revelar os meus problemas. O momento tinha chegado e eu estava ali, sentado, diante de uma pessoa que acabara de conhecer e para a qual iria revelar-me. Estranho, não? Sim, estranho. Começámos a falar sobre o que me levava a recorrer à psicoterapia e o que eu esperava das consultas. A pressão na cabeça continuava presente enquanto debitava palavras boca fora e tentava expressar a minha tristeza e angústia. No entanto, de certeza que o sorriso que mantinha na cara não convencia a Daniela de que eu só precisava de uma ajudinha e que no fundo "eu não tinha quase nada". Tratava-se de uma defesa do corpo; eu não queria mostrar fraqueza nem inferioridade. Para mim ir a uma consulta de psicoterapia sempre me fez confusão porque eu era bastante céptico em relação à psicologia e à forma como, apenas a partir do diálogo, alguém conseguia mudar a sua personalidade e ultrapassar problemas pessoais. Fui sincero em tudo que lhe transmiti, mas não consegui deixar de ter consciência da voz na minha mente sempre a tentar controlar o que iria dizer. É mesmo impressionante este fenómeno. É a voz do ego, no fundo. É deveras importante ser-se sincero no que se transmite à pessoa que nos está a estender a mão.

Cada minuto da consulta foi sentido e, curiosamente, aquela uma hora levou uma eternidade a passar. Expor as nossas fraquezas é muito complicado mesmo, mas já estava feito. O primeiro passo foi tomado. Saí do edifício com um sentimento diferente de todos aqueles que tinha vindo então a sentir desde há meses e meses atrás. Não bom, mas diferente. A promessa de voltar daí a duas semanas ficou gravada naquela caixinha interna a que chamamos: desejo!

Tenho imensos pormenores a referir, mas que considero pertinentes num estado mais avançado da minha descrição das consultas.


Com amor.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Num belo dia destes, ganhei coragem e decidi fazer uma pesquisa na internet sobre psicólogos. Sentei-me na minha cadeira preta de dirigente de clube de futebol e lembrei-me de um programa matinal que o senhor Manuel Luís Goucha apresenta. Tinha presente na memória o nome de um psicólogo que aparecera no programa durante os minutos de um pequeno-almoço, e conclui: "Aquele psicólogo para aparecer na tv é porque deve ser muito conhecido!". Enfim, fiz uma pesquisa pelo nome dele no google e segui para a página do Instituto de Psicologia Aplicada e Formação (IPAF). Lá encontrei uma secção com todos os psicólogos inscritos na referida instituição. Obtive de pronto o email de contacto do referido psicólogo conhecido e enviei-lhe um email. Nunca obtive resposta porque a sua caixa de correio electrónico estava cheia. Assim, voltei novamente à pagina do IPAF e desta vez tive o cuidado de verificar que eram muitos os nomes, e que visto não conhecer ninguém daquele meio, a escolha de um nome para contactar teria de ser mais ou menos à sorte. Decidi que teria de ser uma pessoa do sexo feminino, pois talvez fosse mais fácil expor o meu problema. É certo que o psicólogo conhecido é efectivamente um homem, mas algo me empurrava para um nome feminino. Foi assim que, ao passar a lista, encontrei o nome da pessoa que me tem vindo a ajudar imenso neste processo de superação e auto-conhecimento: Daniela Cosme. O apelido ressaltou-me nos olhos e decidi estabelecer o primeiro contacto via-email.
Percebo agora e só agora, a imensidão da tristeza e angústia em que "vivia". O conteúdo do email demonstrava claramente isso:


"Sou um jovem de 25 anos e há sensivelmente um ano começei a sentir bastante ansiedade que eu penso estar ligada com fobias a sítios altos, nomeadamente, pontes e viajar de avião. Sou uma pessoa com uma vida bastante activa e "stressante", e o aparecimento de tais sintomas coincidiram com o final de curso da universidade e com uma viagem atribulada de avião. Não sei se existe necessariamente uma relação causal, mas penso que não deixa de ser relevante dizer. A verdade é que não me sinto nada confortável em voltar a andar de avião e quase diariamente dou por mim com aperto no peito, palpitações, algumas tonturas sempre que passo na ponte 25 de Abril ou penso em andar de avião. Também tenho consciência que por motivos profissionais, mais tarde ou mais cedo, terei de viajar para o estrangeiro, mas anseio por esse dia." 

Curiosamente, a resposta não chegou... Decidi então não fazer outra busca no site do IPAF, mas sim tentar encontrar uma possível página pessoal da Daniela. Havia algo dentro de mim que claramente disse para não desistir. Dei então por mim a ler a sua resposta, mas de um outro endereço de correio electrónico. Combinámos hora e local; e tudo começou...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Vivia então numa grande bola de neve... em que só a trabalhar me sentia menos mal. Talvez por ter a mente mais ocupada. Esta ansiava por mais exames médicos; mas ao mesmo tempo começei a mentalizar-me que, provavelmente, até poderia ser em parte tudo produto da minha cabeça! Devo confessar que acreditava pouco que assim fosse, pois nessa altura desconhecia por completo que a mente tem a capacidade de não só resolver problemas abstractos, comunicar, interpretar, julgar, etc, mas também de criar e modificar o nosso estado de espírito, o nosso corpo, a nossa motivação, os nossos medos e angústias.
Num impulso de alguma ousadia ou tentativa de ultrapassar o problema todo, decidi comprar uma bicicleta bastante cara e meti na cabeça que iria praticar imenso desporto e que tudo iria passar normalmente.
Contudo, isso não aconteceu. Lembro-me de estar no meio do mato, distante de qualquer tipo de ajuda e de pensar enquanto descia, cansado, um trilho muito estreito em piso acidentado: "Se me dá aqui alguma coisa, ninguém consegue vir cá ajudar-me / uma carrinha do INEM não passa aqui...". Depois do pensamento, surge a ansiedade e um stress brutal em querer desaparecer dali o mais rapidamente possível. O coração a bater extremamente rápido!
Poderia ficar aqui indefinidamente a descrever situações e acontecimentos que infelizmente eu experienciei de ansiedade e tristeza. Mas para quê? Agora compreendo que tudo na vida tem um propósito: mesmo as experiências "menos boas" servem para nos dar uma lição e permitem evoluirmos como pessoas. A adversidade e os problemas psicológicos de que as pessoas sofrem não podem servir de pretexto para que elas se martirizem mais e vivam infelizes. Há que aprender com o erro. O processo é duro, implica muito empenho e vontade de mudança; mas nada nesta vida é certa e tudo parte naturalmente, assim como chega.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sem me aperceber disso, encontrava-me agora muito mais vulnerável a mim mesmo... Os meus pensamentos estavam totalmente focados para acontecimentos negativos, a energia do corpo absorvida e o sistema imunitário mais fraco do que nunca. A confiança em mim mesmo tinha caído para o abismo, e cada vez mais sentia a expressão do corpo; o corpo a falar comigo! O corpo fala! O corpo fala mesmo! Tremores nos músculos, dores e pressões localizadas são manifestações que continuamente afectam uma pessoa com falta de presença, confiança nela própria e paz interior. E eu não era uma excepção. Quando falo em presença, refiro-me a ter consciência de que me encontro no Agora e não a pensar num futuro (que eventualmente nunca surgirá) ou a viver o passado. Quando a mente deambula pelo passado traz-nos necessariamente nostalgia, contudo e infelizmente, também faz com que o nosso apego e aversão cresçam. Estas duas palavras estão na criação de uma mente egóica que é nociva para a o Ser de cada um de nós. O ego alimenta-se de apego, de aversão, de não-mudança e sedentarismo; no fundo o que existe como conhecido é sempre mais confortável do que o inexplorado. Muitas vezes somos tentados a cometer uma pequena "loucura", mas mesmo assim algo dentro de nós faz-nos recear receia. Essa pequena loucura é a voz do ego, ou seja, é a limitação e o condicionalismo imposto ao nosso Ser e que no final nos impede de viver segundo o nosso coração e a nossa mais sincera vontade. Portanto, não existe loucura nenhuma, mas sim apenas uma forte tentativa do ego de se manter inalterado e controlador da Vida! Não quero claro com isto dizer que deveríamos dar um tiro no pé, só porque vimos na televisão e isso nos liberta do ego! Que proveito obteria eu com isso? O que ganharia o meu corpo com isso, ou a minha mente? E a minha Vida? Por outro lado, viver no futuro é igualmente nocivo para o Ser, pois a probabilidade de atingirmos um objectivo para o qual nos propusemos é incrivelmente baixa. Não no sentido de planear uma viajem ou de combinar o jantar de logo à noite com os amigos. O futuro é inimigo do Ser quando o usamos, por exemplo, de tais formas: "um dia quando for director geral da minha empresa, serei muito mais respeitado por todos, poderei comprar o carro dos meus sonhos"; ou ainda "quando comprar aquela casa sentir-me-ei feliz". Em última análise, tudo isto resultará em frustração e profunda infelicidade no Agora do futuro. Propormos a nossa felicidade e contextualizarmos a nossa existência numa posição social com base no que teremos e não no que somos é o erro. É verdade que há pessoas que atingem posições profissionais muito proveitosas monetariamente, mas no momento em que adquirem "aquela casa", "aquele carro" ou ainda "aquele barco", a mente egóica pedirá mais! E agora que já têm tudo o que desejaram ter, ainda precisam de mais! Talvez "aquela viagem", ou "comprar aquela ilha nas Bahamas ao lado da do Brad Pitt".
É pena que as pessoas apenas tenham consciência do momento presente quando se vêm numa situação de vida menos favorável em termos de saúde, e que não deixem o futuro para as bolas de cristal e búzios, e o passado para as fotografias....

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Lembro-me perfeitamente de quando tudo começou...
Era de noite e eu estava a partilhar o sono na mesma cama com a minha namorada e nisto eis que acordo em alarme... uma enorme dor na barriga! Tenho a memória bem presente de pensar que provavelmente seria uma dor aguda de apêndice, uma vez que se localizava mesmo "naquele" sítio! A mente começou de pronto a canalizar todo o pensamento para uma possível visita ao hospital mais próximo e quem sabe operação de urgência! "Oh não, ser operado não!" Enfim, tentei esquecer aquele cenário horrível e adormecer... Passado uma hora lá adormeci....
No dia seguinte acordei ainda com "aquela" dor! Era teimosa, chateando-me mesmo nos dias seguintes... O desconforto no corpo começou a aumentar e a mente cada vez mais a reservar energia para tais pensamentos negativos....
Foi então que decidi ir ao médico afim de fazer exames; porventura uma ressonância ou um TAC ajudaria a esclarecer a situação! Saí do médico já com uma palmadinha nas costas e com a frase: "Não tem nada; o que precisa mesmo é de se distrair e beber uns copos à noite!"
Pois eu bem me tentava distrair, mas aquele desconforto era limitativo; a mente constantemente a focar a sua atenção para aquela região no corpo.... Horrível...
Às tantas, começou uma pressão enorme na cabeça e eu já pouco satisfeito com as semanas anteriores, fiquei ainda mais alarmado... Fui novamente ao hospital fazer exames, mas agora à cabeça... Nada, felizmente!
A pressão na cabeça foi o que mais me aborreceu nisto tudo pois era constante o dia inteiro. Tanto fazia estar a trabalhar, como a tentar relaxar à beira mar ou de férias, ou ainda deitado à espera que o sono me salvasse! Cheguei a frequentar uma consulta de um homeopata, em que me foi assegurado que iria claramente melhorar e ficar óptimo! A ansiedade de ficar óptimo parece que me impedia de o atingir!
No fim de ir a especialistas tanto de intestinos como de neurologia, de ter feito inúmeros TACs, e de viver numa tristeza que talvez em muitos momentos nem sequer fosse consciente, aceitei que a génese dos meus problemas era apenas uma: a minha mente! Enfim, tenho agora plena consciência do quão eu era hipocondríaco!
Todo este aglomerado de pensamentos negativos e sentimentos corporais que eu interpretei como sendo extremamente perigosos para mim, promoveram o surgimento de algum tipo de fobias que até então eu nunca teria tido. Começei a ter receio de me ausentar para sítios que estivessem longe de um hospital, medo de andar de avião, de elevadores e de parar no transito em pleno tabuleiro da ponte 25 de Abril! Sem me aperceber, tudo isto começou a efervescer dentro de mim e a ganhar cada vez mais terreno, como se tratasse de um campo de batalha em que dum lado estava eu indefeso e nu, e do outro, claramente, uns senhores muito feios, com kilts vestidos, machados e capacetes de ferro!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O meu nome é Ângelo, sou um jovem português de 25 anos e que apesar da tenra idade que conservo, foi a suficiente para, porventura, experimentar a maior mudança na minha forma de pensar e de encarar a vida do quotidiano.
Se me permites, gostaria de agora em diante tratar-te por tu, pois independentemente da tua idade, penso que é usando a segunda pessoa do singular que se consegue chegar ao fundo do coração de cada um. É certo que o distanciamento causado pelo emprego de um "você" não ajuda em nada neste tipo de contexto.
A razão que me levou a pensar escrever um blog (nunca o tinha feito antes) resulta da necessidade de partilhar a minha experiência com pessoas que ainda estejam apegadas ao mesmo distúrbio psicológico de que eu sofria.
O título do blog remete-te para um assunto que infelizmente convive diariamente com milhões de seres humanos: medo, fobias e ansiedade. Infelizmente, tais temas continuam a ser tabu na sociedade altamente capitalista em que vivemos. Considero que cada vez mais as pessoas tendem a viver a vida de uma forma formal, isto é, vivem para trabalhar e para além disso quando não o estão a fazer, continuam num estado de sonolência e não-presença. No fundo, acabam por nunca se conhecerem realmente; o vizinho porventura é mais interessante do que eles próprios! Aceitar os seus próprios defeitos é bem mais difícil do que criticar atitudes ou reacções de outrem. Para além disso, quem sofre de problemas do foro psicológico normalmente é rotulado e visto como alguém "inferior" para pessoas que elas sim são pequenas interiormente (embora não tenham tal consciência)!
Espero do fundo do coração que esta pequena viagem de transformação que aconteceu comigo e que eu falarei em próximos tópicos te ajudem a ultrapassar os teus problemas, estejam eles relacionados com o medo de morrer, medo de espaços fechados, fobia e pânico em andar de avião, medo de estar em sítios isolados, fobia de elevadores, etc. No fundo provém tudo da mesma fonte, ou seja, embora a água do teu riacho corra unicamente encosta abaixo, no final essa água encontrar-se-á sempre no mesmo sítio; por mais riachos que haja, todos eles encontrar-se-ão para formar o rio!
Não hesites em deixar um comentário sempre que achares pertinente. Aqui ninguém julga ninguém; é com base na partilha de amor, sinceridade e compaixão por todos os seres vivos sem excepção que todos evoluímos e progredimos no difícil e tortuoso mar que é o pleno conhecimento do Ser.