quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Não há palavras para descrever aqueles momentos em que sentimos estar a começar a ganhar algum terreno face aos nossos medos e fobias. Gradualmente, somos presenteados com pequenas conquistas, extremamente valiosas para o processo de estruturação mental. Posso dar alguns exemplos de tais conquistas: passar/estar num sítio menos agradável e nada acontecer ao nível emocional e comportamental, recordar/pensar algo extremamente penoso/desconfortável e mesmo assim ficarmos serenos e calmos, desafiarmos os nossos próprios limites ousando fazer aquilo que gostamos, e que só não o fazemos por medo. Acima de tudo, há que depositar enorme confiança nesses momentos e recordá-los sempre que sejam substituídos por outros menos agradáveis. O pensamento deve ser: "Eu já o fiz, nada me aconteceu e portanto nada me acontecerá se voltar a repetir tal experiência. Tenho consciência que se trata do meu corpo de dor a condicionar-me, a impor-me limites e a tirar-me o desejo de viver com o coração".

"Nunca nada acontece no passado; acontece no Agora. Nunca nada acontecerá no futuro; acontece no Agora."

À medida que alimentamos cada vez mais estas conquistas, mesmo que efémeras, o nosso corpo de dor torna-se mais pequeno. Ganhamos espaço interior, confiança e determinação. Ao mesmo tempo, o próprio corpo de dor vai tentar sobreviver, exactamente como qualquer outra identidade, mas só poderá consegui-lo caso exista identificação inconsciente com ele. Vai tentar alimentar-se de energia negativa que provenha de pensamentos e com isso criar mais dor e reforçar a sua posição como dono do corpo e da mente. Assim, é fundamental ganhar confiança, determinação e espaço interior para que se veja o pensamento, se sinta a emoção e se observe a reacção. Todo este exercício resulta num grande zero se a mente estiver inobservada.

Numa mente inobservada, as emoções florescem sem termos controlo sobre as reacções e sobre o momento, pelo que é exactamente por aí que deveremos começar a focar a nossa atenção. Para além do exercício de escrevermos num caderno tudo o que se passa aquando de uma situação desagradável e de tentarmos recordar uma situação semelhante em que tenhamos estado "bem", a tarefa principal é estar constantemente atento à nossa mente, aos pensamentos gerados, e finalmente tentar controlar o fluxo do pensamento, isto é, criar um hiato no caudal da mente. O conceito de "controlar os pensamentos" é, de facto, o primeiro passo mais importante para o crescimento interior e a superação da identificação com a mente / medo / fobia.

"A identificação com a mente dá mais energia à emoção; a observação da mente retira-lhe energia. A identificação com a mente cria mais tempo; a observação da mente abre a dimensão intemporal."

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os dias seguiam-se uns aos outros, e o meu caderno ganhava cada vez mais corpo. Uma nota ainda para este tipo de "técnica": escreve tudo aquilo que sentires e pensares; nunca apagues, re-escrevas, ou mesmo leias quando acabares (tipicamente coincide com "a passagem do barco para lá do cabo das tormentas!"). Sugiro que partilhes mais tarde com alguém que ames incondicionalmente ou com quem te sintas plenamente à vontade para te expores. No meu caso, foi a Daniela. Este simples exercício foi mesmo muito importante para mim. Lembro-me de estar confortavelmente sentado naquela pequena divisão de casa estéril, intocável e inviolável, e de estar a ter plena consciência de toda a simplicidade de atravessar a ponte de comboio. Como poderia isso representar uma ameaça para mim? A partir do momento em que começa a surgir esta tomada de consciência interior, a transformação acontece. Gradualmente, mas começa! Outra coisa que também gostaria de referir é que a partir de um determinado momento, o caderno torna-se um melhor amigo e um óptimo escape ao processo de aparecimento de ansiedade/medo provocada por um acontecimento/acção/evento, ou um pouco pior, ao processo de crescimento da ansiedade/medo.
Portanto, qualquer que seja o teu problema, tenta arranjar um refúgio dentro de um caderno. Verás que gradualmente irás mudar a tua atitude perante a adversidade que só tu és dono(a) e criador(a).


Há dias em que nos deslocamos na rua e tudo nos parece simples, bonito, magnânimo, colorido. Porém, outros há em que tal não se verifica e onde, aos nossos olhos, tudo parece um caos, enfadonho e triste. Também há horas em que sentimos que esta dualidade existe. Há igualmente minutos assim. E talvez até segundos. Acordamos e passamos longos minutos super descontraídos e sem stress, a menos que o nosso patrão nos ligue a exigir mil e uma coisas para fazermos durante esse dia. Nesse momento, o dia acaba, podíamos voltar para a cama, e voltar a acordar só no dia seguinte, agarrados à esperança que o patrão não fosse ligar novamente pela manhã. Vale a pena o desperdício de um dia, qualquer que seja a circunstância de vida, ou neste caso, a circunstância do dia? Não seremos capazes de mesmo assim aproveitar um pouco melhor esse mesmo dia que para a maioria das pessoas é trágico, desconfortável e stressante? Eu tenho a certeza que sim. Certamente já tiveram um dia assim. No final desse mesmo dia, chegam a casa e para além de trazerem o cansaço, trazem também o mau-humor e uma ânsia por conflito com aqueles que menos têm a ver com a situação. O queixume do dia terrível é um hábito; o espreguiçar no sofá ou o caminho direitinho para a cama é uma realidade comum. Mas será que não poderíamos usar este pequeno tempo que encerra o dia para nos revitalizarmos, recuperarmos energia positiva e irmos finalmente para a cama em paz? Será que é preciso ficarmos ancorados ao tempo que decorreu desde que saímos de casa até termos chegado? Será que isso não nos trará apenas infelicidade, ainda mais irritação, stress e desconforto? Eu tenho a certeza que sim. Este tipo de conflito externo com as circunstâncias da vida provocam uma profunda desordem ao nível interior, e o pior é que habitualmente passa despercebida até tudo culminar num problema. Nessa altura é tarde, e um processo longo tem de ser desencadeado afim de recuperar o equilíbrio interior. Esta energia negativa foi alimento para caixinhas até então adormecidas; fazendo com que finalmente apresentassem a sua forma natural de expressão negativa para o Ser através de fobia, medo, ansiedade, depressão e dependência.

Com amor.