sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Num belo dia (não sei se de manhã ou de tarde, mas o que interessa isso) decidi pesquisar sobre a filosofia budista afim de perceber melhor do que se tratava. Este sentimento surgiu daquela imagem comum que temos de monges sentados de olhos fechados dentro de um magnífico mosteiro em que predomina a cor vermelha, o pavimento, um soalho suave e compassivo, e as vestes igualmente vermelhas que pressupõem um passado histórico e disciplinado. As árvores lá fora dão um algodão rosa que ao mais subtil sopro de ar caem e inundam o chão formando um ambiente desigual. No fundo uma imagem que facilmente se conecta a conceitos como o cultivo de calma e paz pessoais. Percebi que precisava de ir um pouco mais além e explorar uma nova forma de estar e viver a vida. A maneira budista de viver parecia ser interessante e porventura era o que estava a precisar. Assim, decidi inscrever-me num curso de Meditação Tibetana na União Budista Portuguesa com o professor Paulo Borges. Curiosamente, surgiram mais pessoas do que eu imaginaria; talvez fossemos umas 20 pessoas numa sala que apesar de tudo não necessita de mais espaço do que o ocupado por tapetes e pequenos bancos de esponja rija azuis, ambos pouco confortáveis. Por vergonha, abordei uma cadeira e deixei-me ali ficar até ao intervalo chegar. O curso iniciou com uma breve introdução e enquadramento da filosofia budista e com aquilo que poderíamos esperar das três sessões. Seguiu-se a prática. No intervalo divorciei-me da cadeira e tomei o tapete mais próximo. Foi algo doloroso o impacto dos ossos dos pés e anca no chão, a torção dos joelhos e abertura das virilhas. No fim das três sessões achei que jamais poderia parar de praticar meditação. Seguiu-se uma aula grátis em que me envolvi com a turma semanal de meditação e reconheci que tinha muito trabalho pela frente, na adaptação ao chão e postura, e no desenvolvimento da prática como forma de auto-conhecimento e libertação de um estado de ignorância.
Começei a praticar no dia 13 de Junho de 2009 e desde então nunca mais parei. Todos os dias sinto necessidade de me sentar naquele canto de casa específico para o contacto comigo mesmo e dar mais um passo rumo ao total auto-conhecimento de mim mesmo. Não se trata de crenças, de santos ou de amuletos, de religião nem de sair para fora com vista concretizar e desenvolver paz, amor e compaixão por todos os seres vivos sem excepção. Trata-se de entrar cada vez mais para dentro de mim mesmo e de reconhecer que toda a negatividade é gerada dentro de mim e portanto a "cura" terá única e necessariamente de estar no interior.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ter memória da evolução pessoal é magnífico. Eis um texto que escrevi há uns meses atrás:

"O meu corpo de dor tenta-se alimentar a todo o custo de negatividade. A minha mente leva-me a ter pensamentos irrealistas e negativos mas aos poucos e poucos vou tomando consciência que a minha mente não sou Eu. Eu sou mais que isso, sou muito mais que pensamento, mas desconheço a sua totalidade. É óbvio que não quero aprisionar a minha mente pois isso também seria patético. Se conseguir criar um fluxo de pensamentos que seja intemporal, que apenas partilhe o momento presente como verdade absoluta e única, tenho plena certeza de que Eu ganharei imenso com isso e, no limite, atingirei a iluminação. É também verdade que agora reconheço-me mais sábio e fazendo uso de um melhor bom senso face a tudo o que me é exterior. A Daniela diz que já estou curado e eu percebo-a, contudo o meu corpo de dor ainda está presente. A partir do momento em que eu trago para a consciência todos os meus medos e ansiedades, a cura está realizada. Ainda não atingi este ponto e, portanto, o corpo de dor ainda existe. E por isso mesmo ainda continue a sentir ligeira ansiedade aqui e ali... A única maneira de ultrapassar é não fomentar o devaneio da mente para pensamentos negativos, de morte, pessimistas e irrealistas. Penso que é o processo mais difícil de todos. O meu corpo está habituado a um estado de ansiedade sempre que algo me transtorna. Estou viciado nisso. Há algo em mim que activa a reacção por puro prazer e hábito. Não tem mal, o problema é a forma como interpreto a reacção. Portanto a solução julgo que passa pela perseverança e coragem, no cultivo do pensamento positivo perante qualquer tipo de coisa e acreditar que acima de tudo, Eu não sou apenas a minha mente. Ela faz parte de um todo (que ainda desconheço) e que só faz sentido usá-la em prol de mim e não contra mim."


O termo iluminação que aparece referenciado no texto surge como o culminar de um processo espiritual. Não se trata de religião, mas de espiritualidade. A espiritualidade nasce através do amor e evolui com o cultivo do conhecimento acerca de si próprio. Não se deve associar de todo a espiritualidade a religiosidade pois não se trata de acreditar nem de se identificar com crenças que são necessariamente externas ao Eu como os santos, os profetas, os padres. É através do olhar atento para o interior do Eu próprio que se evolui para um estado de perfeita consciência, paz, harmonia e sabedoria. Tudo o resto que resulta de uma fuga para o exterior produz ignorância e por sua vez infelicidade, apego, aversão, dualidade, sentimento de culpa, isolamento, medos.

Os budistas assumem como principal objectivo atingir o estado de nirvana, ou iluminação.

"Most people have heard of nirvana. It has become equated with a sort of eastern version of heaven. Actually, nirvana simply means cessation. It is the cessation of passion, aggression and ignorance; the cessation of the struggle to prove our existence to the world, to survive. We don't have to struggle to survive after all. We have already survived. We survive now; the struggle was just an extra complication that we added to our lives because we had lost our confidence in the way things are. We no longer need to manipulate things as they are into things as we would like them to be."

in buddhanet

Tradução:
Muitas pessoas já ouviram falar de nirvana. Tem vindo a ser comparado com a versão ocidental de paraíso. De facto, nirvana significa apenas cessão. É a cessão da luxúria, agressividade e ignorância; a cessão da luta para tentar provar a nossa existência ao mundo, para sobreviver. Afinal de contas nós não temos de nos esforçar para sobreviver. Nós já sobrevivemos. Nós sobrevivemos agora; a luta foi apenas uma complicação extra que adicionámos às nossas vidas porque perdemos a confiança na forma como as coisas são. Nós não precisamos mais de manipular as coisas tal qual como são afim de as obtermos à nossa maneira.