quarta-feira, 12 de maio de 2010

Chegar a Madrid foi das melhores sensações que já tive na vida. Apesar das lentes dos meus óculos retirarem a cor natural das coisas, tudo para mim era vivo, era cor, era luz. Senti-me melhor, senti-me novo e capaz, senti-me um hércules que acabara de conquistar uma taça. A minha "sala de troféus" foi finalmente inaugurada. Ao longo da minha vida tenho conseguido alcançar os objectivos a que me proponho, entrar na universidade, tirar o curso, etc; mas de facto tais objectivos não podem ser comparados com os sentimentos de felicidade, amor, paz e evolução pessoal/espiritual. São absolutamente disjuntos, nunca se cruzam porque são dois planos paralelos. Estou certo que no final apenas um dos planos me trará a felicidade, bem estar e paz que precisarei no momento. O restante plano fará parte das memórias do passado, poder-me-ei sentir contente por ter feito isto ou aquilo, por ter conseguido x ou y, mas tudo certamente será uma memória geradora de um sentimento fugaz.
Passei o resto do dia em Madrid e no dia seguinte viajei de regresso para Portugal. Desta vez não houve atrasos no voo! À minha espera no aeroporto encontrei os meus pais, e é tão bom ver novamente as pessoas que nós amamos incondicionalmente, não é?


Eu amo-vos a todos.
: )

sábado, 24 de abril de 2010

Alguém que esteja desse lado com problemas semelhantes seguramente que se questiona se eu por acaso não pensei em levar medicamentos para tomar caso me sentisse mal durante a viagem. Pois bem, é verdade que pensei nisso e curiosamente quase abandonei esses pensamentos à medida que a data de voar se aproximava. Para quê "estragar" tudo quando o processo já vinha sendo longo? A importância do momento está em vivê-lo, independentemente do estado físico ou emocional. Vivê-lo tal como é. Se o medo surgir, primeiro tomar consciência do mesmo e depois deixá-lo estar! Portanto, cada vez mais tinha a certeza que levar remédios para bordo seria regredir e, no fundo, não estaria a ser verdadeiro para comigo mesmo. Se até então nunca tomara medicamento algum, porque seria agora que o faria?
Reconheço que este tipo de consciência e confiança é porventura arrojado para certas pessoas, até porque podem estar dependentes de medicação. O meu maior conselho neste caso é para deixarem a medicação de pronto, uma vez que esta apenas serve de máscara para uma consciência da realidade tal como ela é. A medicação apenas atrasa o verdadeiro processo de superação da dificuldade e ignorância. Gostaria imenso que todas as pessoas que sofrem de desordens psicológicas relacionadas com fobias e medos não tivessem sequer a tentação de começar a tomar medicação como forma de recuperação. Também julgo que o erro em parte pode estar do lado do psicólogo por facilmente permitir o uso de tais substâncias, em vez de sugerir um processo faseado de procura da origem do problema, consciencialização e superação do mesmo.
Entrei no avião e fui prontamente cumprimentado pelo comandante do avião e hospedeira. Jamais esquecerei a cara daquele homem bronzeado, meia idade e sorriso branco leucócito. Procurei o meu lugar e instalei-me. Encostado à janela encontrei uma criatura algo fria, de fora, pouco faladora e penso que aborrecida com alguma coisa. Obviamente que tentei estabelecer contacto afim de me acalmar, uma vez que já estava a sentir alguma excitação interna. Desloquei duas saídas de ar condicionado e direccionei-as para a minha cabeça para sentir algo vivo e confortável. Ela respondeu-me que conhecia bem Madrid, mas remeteu-me rapidamente para o livro que tinha na minha mão como que a sugerir um fecho de conversa. Eu percebi e calei-me até que o avião começou a mexer. Entretanto, não tive interesse pelo vídeo de segurança e foquei-me ora no livro de Madrid, ora na revista de bicicletas. Tudo calado menos o meu coração. Olhei para o lado e seguia um grupo de três pessoas tranquilamente sentadas, em que uma delas até já dormia ("Como será possível já estar a dormir?"). Suavemente o avião começou a andar em linha recta até que um impulso "herculeano" me agarrou ao sítio; estaria agora prestes a tirar os pés de terra firme e partir rumo ao céu e à cidade espanhola. Lembro-me de estar a pensar... "Olha já levantei... e não custou nada", mas afinal ainda estava no chão. Apenas percebi que tinha levantado quando senti uma panóplia de forças agressivas sobre o meu corpo e cabeça. Por breves segundos, perdi totalmente a orientação ou a noção de estar ali sentado devido à "força g" a actuar no meu corpo. Depois disso senti-me estranho em estar a subir para as nuvens e jamais queria olhar para a janela e observar o que se estava a passar. Agarrei-me a frases de confiança que fui absorvendo, como por exemplo a do meu amigo Maurício, e larguei-me de tudo.
Estaria a mentir se afirmasse que fiz a viagem mais tranquila do mundo. Fui sempre alerta pois embora já tivesse voado em 2005, todo aquele espaço parecia novo e por conhecer. De volta e meia, o coração apressava-se mais, como se tivesse a correr para apanhar o comboio prestes a partir, com  um barulho diferente dos motores ou com ligeiro abanar do avião. Fui alternando entre os utensílios de distracção que levava comigo, nunca estando mais de 15mins com um. Estava claramente excitado mas ao mesmo tempo só pensava... "Estou a conseguir, estou a voar e não tarda muito estou em Madrid! Vou conseguir!". Quando o avião abanava um pouco, olhava para a fotografia que guardara dentro do livro do Eckhart Tolle; levei uma fotografia em que constava eu vestido com o traje académico que comprei de propósito para tirar foto com o meu avô, os meus pais e possivelmente os meus dois cães. Olhar e contemplar a minha mãe e o meu pai dava-me confiança para ser forte e enfrentar o meu desafio corajosamente. Tentei por uma ou duas vezes focar os ponteiros do relógio do pulso do homem do meu lado, mas estavam num ângulo em que não podia fazer mais nada a não ser relaxar e esperar para estar em Madrid.
De facto, esta vivência da viagem deu-me uma maior abertura face à impermanência das coisas e a como não podemos desesperar e fomentar pensamentos de querer sair do sítio, desaparecer dali, quando estou num espaço fechado e condicionado. Há que experienciar isso e ficarmos felizes pelo objectivo final de estar ali: neste caso, viajar e conhecer sítios novos. Mesmo que esteja agitado, sei que isso não será permanente e que portanto, primeiro depende da minha, e só minha, interpretação da realidade e, em segundo, depende de causas e efeitos.
Com amor.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Os dias foram passando e passando até que dei conta que faltava uma semana para voar. Começei a tentar organizar as coisas que iria levar comigo. Pensei em tudo que fizesse com que a mente ficasse ocupada durante a viagem. No fundo sabia que porventura não iria usar as coisas que levaria, mas ao fazê-lo também estruturava mais na minha cabeça que a viagem seria inevitável e que seria algo que no final trazer-me-ia um enorme prazer. Voar iria implicar conhecer uma nova cidade e sítios diferentes, bem como ultrapassar mais uma barreira na minha mente. E bem que estava a precisar de testar o que até então tinha vindo a trabalhar. Pois bem, decidi levar comigo um livro de Eckhart Tolle que na altura estava a iniciar, umas folhas A4 em branco, uma caneta e o livro de Madrid da American Express emprestado pelo meu caro amigo e vizinho André. Durante essa semana senti-me algo agitado interiormente; por momentos imaginava como seria a viagem ao pormenor, mas de pronto tomava consciência disso mesmo, abraçava essas emoções e deixava o pensamento fluir sem deixar rasto.
Na ante-véspera, ou algo assim do género, da minha viagem, tive um jantar com o meu grande amigo João Maurício no qual tivemos uma breve conversa acerca do assunto. Da mesma guardo a seguinte frase: "Puto mas tu sabes que nada vai acontecer, não é?" E riu-se de seguida. Esta passagem de confiança é algo que nunca irei esquecer. Um dia abandonarei este corpo e com ele partem todas as imagens de vivências, sendo esta demonstração de amizade e transmissão de confiança uma das que certamente irei conservar até esse momento subtil, o da despedida que não tem necessariamente de ser mau.
Na manhã do voo acordei bem cedo para estar com duas horas de antecedência no aeroporto. Tive tempo para uma última breve meditação antes de sair de casa.
Recordo-me de estar no aeroporto a sensivelmente uma hora e meia do voo, de mochila às costas e com a bagagem de mão. Não era uma bagagem de mão qualquer, era a que a minha mão suportava com vigor e expectativa; a mochila tocava-me os ombros suavemente e concedia-me uma coragem adicional que por palavras não conseguirei explicar. "Bom dia, é um chá de camomila, por favor." E assim estava eu prestes a embarcar e a aproveitar o magnífico aroma do chá. Dizem que faz bem para acalmar. Ainda tive tempo para mais uma dose de chá. Decidi então dirigir-me para a porta de embarque e quando apresento o bilhete, sou informado que o meu voo foi cancelado e que portanto passaria para daí a duas horas. Enfim, que mais me poderia acontecer?
Tive de esperar na sala com alguns passageiros nas mesmas condições que eu. Calhou mesmo em má altura pois a tripulação da TAP estava em greve. Sucederam-se alguns telefonemas, especialmente para a minha mãe. A conversa normal que qualquer pessoa teria em semelhantes condições. O grave seria perder duas horas em Portugal, porque só iria ficar em Madrid por uma noite. Teria assim ainda menos tempo para ver alguma coisa da cidade. Via os aviões à minha frente e tentava ambientar-me ao barulho dos motores.
Enfim, a hora finalmente chegara; finalmente porque dentro de mim havia agora um misto de expectativa, medo, vontade e alegria. Só queria chegar a Madrid. Apresentei o bilhete, dirigi-me para o autocarro e sentei-me. Aproveitei para abordar a revista de bicicletas que tinha comprado na zona de tax-free do aeroporto e começei a folheá-la enquanto esperava que o autocarro enchesse. Começei a sentir uma ligeira agitação mas de pronto disse para o meu corpo de dor: não vale a pena isso agora, eu vou para Madrid. Ainda tive tempo para um último telefonema para a minha mãe enquanto saia do autocarro em direcção às escadas que subiam até à porta do avião. Gostaria de me recordar do nome do avião!

terça-feira, 23 de março de 2010

Estando cada vez mais consciente da realidade e bem comigo mesmo, dirigi-me ao aeroporto de Lisboa afim de comprar um bilhete de avião por sugestão da Daniela Cosme. O destino escolhido teve por base a duração da viagem. Cinquenta minutos separam as duas capitais, Lisboa e Madrid. Dirigi-me ao balcão da TAP e procedi à compra do bilhete. Quando o toquei, senti claramente que seria um acontecimento que jamais iria esquecer.
Por essa altura já tinha ideias de escrever um blog, mas de certa forma não me sentia à vontade para partilhar a ignorância onde estive mergulhado com outras pessoas, uma vez que não estaria a ser inteiramente sincero, nem comigo nem com o leitor. Antes de mais, precisava de sentir e viver a experiência daquilo que mais me causava transtorno e inquietação, andar de avião. A viagem seria feita sozinho e portanto o desafio era enorme!
Durante as sessões de psicoterapia, tinha plena noção que o derradeiro objectivo final seria chegar a um nível de consciência onde comprasse um bilhete de avião e embarcasse para um destino, no fundo, deixasse para trás uma panóplia de condicionalismos de origem mental que me vinham a causar uma não-vivência. Pois bem, tinha chegado a esse ponto, e ali estava eu de bilhete na mão com uma vontade comedida de partir.
Seguiram-se dois meses de psicoterapia e de contemplação do bilhete em cima da secretária de madeira. Umas vezes enchia-me de vontade e coragem e dizia para comigo "já tenho o bilhete, eu vou conseguir!", outras onde pensava "o dia está a chegar!..".
Embora por vezes tivesse dúvidas e receio em relação ao que se iria passar, tinha a certeza que queria fazê-lo, e isso ajudava a dar-me força e determinação. Queria mudar e deixar a sonolência!
Achei importante comprar o bilhete numa companhia aérea que igualmente me transmitisse confiança, pela sua história e sucesso; daí ter escolhido a TAP. Embora isto represente algum apego, não julgo que seja relevante nesta fase, pois toda a energia tem de ser criada no sentido de uma mente criadora de pensamentos positivos e motivadores. O extra de confiança da companhia aérea penso que só ajuda.
Nesse dia, recordo-me ainda de vir a conduzir o carro de volta para casa e de atravessar a ponte Vasco da Gama. Julgo que estava um dia algo nublado, mas seria o tempo o culpado pelas lágrimas? O bilhete sorria no bolso, o céu algo tímido e as minhas emoções uma montanha-russa. O que um bocado de papel foi capaz de me fazer nesse belo dia!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Tenho tido pouco tempo para escrever e até alguma preguiça, mas deixo aqui algumas sugestões de leitura:

Tolle, Eckhart. O poder do agora. Pergaminho, 2001.
link para bertrand.pt 

Tolle, Eckhart. Um novo mundo. Pergaminho, 2006.
link para bertrand.pt

Sharma, Robin. O monge que vendeu o seu ferrari. Pergaminho, 2004.

Para mim os livros de Eckhart Tolle são magníficas obras de crescimento espiritual. Aconselho vivamente a começarem pelo primeiro da lista acima. Pessoalmente, identifiquei-me imenso com a sua escrita e com os problemas descritos, o que contribuiu imenso para o entendimento de certos aspectos e para o processo de superação. É uma bíblia de energia positiva e de bem-estar. É certamente um livro que se deve adquirir e absorvê-lo sempre que necessário. Os livros de Eckhart Tolle são fáceis de encontrar em qualquer livraria, já o de Robin Sharma é um pouco mais difícil.

Outra pessoa bastante conhecida no mundo do crescimento espiritual é Osho. Os livros dele são também muito fáceis de encontrar em qualquer livraria. Tenho de admitir que não me identifiquei tanto com a sua escrita de forma que ainda só tenho um livro. Na realidade os livros não são de sua autoria. Enquanto vivo, Osho dava inúmeras palestras e conferências pelo mundo fora, onde as pessoas gravavam essas mesmas conversas e agora aproveitam-se das gravações para publicarem livros.
Eis o livro que tenho dele:

Osho. Consciência. Pergaminho, 2002.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Auto-conhecimento e sabedoria, dois conceitos absolutamente complexos. A prática de meditação oferece a possibilidade de me conhecer, de entender a minha verdadeira natureza, ajuda-me a ganhar discernimento e com isso sabedoria. No início da prática não se consegue perceber bem o que se está ali a passar, o tempo que se segue à prática leva-nos a levantar algumas questões acerca do que se passou, será razoável estar fisicamente parado num sítio neutro por, digamos, trinta minutos e ter consciência que a mente não pára? Sem catalisadores externos de agitação a não ser pensamentos relacionados com acontecimentos passados, mesmo assim a mente parece não parar. O silêncio incomoda a mente destreinada e não observada. A mente agitada não quer descanso, quer ser dona e senhora da situação; os pensamentos por ela gerada alimentam o nosso corpo de dor de uma forma absurdamente subtil. Embora pratique à menos de um ano, tenho agora plena consciência do meu corpo, da respiração e através da observação da mente consigo manter-me, ainda que por alguns minutos, num espaço e tempo infinitos em que não há mente, não há medos, apego, aversão, condicionalismo, sentimento de isolamento e solidão. O momento torna-se assim harmonioso e sente-se uma paz incomparável.
Penso que é deveras importante não definir metas diárias, mensais ou anuais para a prática, nomeadamente, propormo-nos a atingir determinado tipo de estado ou nível de consciência, uma vez que isso apenas gerará agitação e ansiedade. No fim, muito provavelmente, a meta não será atingida e começaremos a gerar um sentimento de incapacidade, desprezo ou antipatia pela prática. Começar cada sessão afim de oferecer tudo e não querer receber nada em troca, é assim a minha atitude. Contudo, é natural que se diga, "vou-me sentar no meu cantinho e tentar gerar energia positiva interna e alguma paz"; tal pensamento não é de todo incompatível com a atitude a ter, seria sim caso dissesse "vou meditar porque sei que no fim estarei calmo e em paz". Estou claramente a antecipar os benefícios da prática e no fundo a projectar-me no futuro, e tal como já referi, viver no futuro é sinónimo de uma mente ansiosa, agitada e stressada que tem uma probabilidade baixa de sucesso relativamente aos objectivos propostos.

Question:
What is Meditation?

Answer:
Meditation is a conscious effort to change how the mind works. The Pali word for meditation is 'bhavana' which means 'to make grow' or 'to develop'.



Tradução:
Pergunta:
O que é a meditação?

Resposta:
A meditação é um esforço consciente para mudar a forma como a mente funciona. A palavra em Pali para meditação é 'bhavana' que significa 'fazer crescer' ou 'desenvolver/evoluir'.

Para mais informações sobre o significado de meditação podes ainda consultar o link da União Budista Portuguesa meditação.

O esforço e empenho compensam e em poucas semanas se toma consciência que a prática da meditação é algo pessoal e quase impossível de cessar. 

Com amor.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Num belo dia (não sei se de manhã ou de tarde, mas o que interessa isso) decidi pesquisar sobre a filosofia budista afim de perceber melhor do que se tratava. Este sentimento surgiu daquela imagem comum que temos de monges sentados de olhos fechados dentro de um magnífico mosteiro em que predomina a cor vermelha, o pavimento, um soalho suave e compassivo, e as vestes igualmente vermelhas que pressupõem um passado histórico e disciplinado. As árvores lá fora dão um algodão rosa que ao mais subtil sopro de ar caem e inundam o chão formando um ambiente desigual. No fundo uma imagem que facilmente se conecta a conceitos como o cultivo de calma e paz pessoais. Percebi que precisava de ir um pouco mais além e explorar uma nova forma de estar e viver a vida. A maneira budista de viver parecia ser interessante e porventura era o que estava a precisar. Assim, decidi inscrever-me num curso de Meditação Tibetana na União Budista Portuguesa com o professor Paulo Borges. Curiosamente, surgiram mais pessoas do que eu imaginaria; talvez fossemos umas 20 pessoas numa sala que apesar de tudo não necessita de mais espaço do que o ocupado por tapetes e pequenos bancos de esponja rija azuis, ambos pouco confortáveis. Por vergonha, abordei uma cadeira e deixei-me ali ficar até ao intervalo chegar. O curso iniciou com uma breve introdução e enquadramento da filosofia budista e com aquilo que poderíamos esperar das três sessões. Seguiu-se a prática. No intervalo divorciei-me da cadeira e tomei o tapete mais próximo. Foi algo doloroso o impacto dos ossos dos pés e anca no chão, a torção dos joelhos e abertura das virilhas. No fim das três sessões achei que jamais poderia parar de praticar meditação. Seguiu-se uma aula grátis em que me envolvi com a turma semanal de meditação e reconheci que tinha muito trabalho pela frente, na adaptação ao chão e postura, e no desenvolvimento da prática como forma de auto-conhecimento e libertação de um estado de ignorância.
Começei a praticar no dia 13 de Junho de 2009 e desde então nunca mais parei. Todos os dias sinto necessidade de me sentar naquele canto de casa específico para o contacto comigo mesmo e dar mais um passo rumo ao total auto-conhecimento de mim mesmo. Não se trata de crenças, de santos ou de amuletos, de religião nem de sair para fora com vista concretizar e desenvolver paz, amor e compaixão por todos os seres vivos sem excepção. Trata-se de entrar cada vez mais para dentro de mim mesmo e de reconhecer que toda a negatividade é gerada dentro de mim e portanto a "cura" terá única e necessariamente de estar no interior.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ter memória da evolução pessoal é magnífico. Eis um texto que escrevi há uns meses atrás:

"O meu corpo de dor tenta-se alimentar a todo o custo de negatividade. A minha mente leva-me a ter pensamentos irrealistas e negativos mas aos poucos e poucos vou tomando consciência que a minha mente não sou Eu. Eu sou mais que isso, sou muito mais que pensamento, mas desconheço a sua totalidade. É óbvio que não quero aprisionar a minha mente pois isso também seria patético. Se conseguir criar um fluxo de pensamentos que seja intemporal, que apenas partilhe o momento presente como verdade absoluta e única, tenho plena certeza de que Eu ganharei imenso com isso e, no limite, atingirei a iluminação. É também verdade que agora reconheço-me mais sábio e fazendo uso de um melhor bom senso face a tudo o que me é exterior. A Daniela diz que já estou curado e eu percebo-a, contudo o meu corpo de dor ainda está presente. A partir do momento em que eu trago para a consciência todos os meus medos e ansiedades, a cura está realizada. Ainda não atingi este ponto e, portanto, o corpo de dor ainda existe. E por isso mesmo ainda continue a sentir ligeira ansiedade aqui e ali... A única maneira de ultrapassar é não fomentar o devaneio da mente para pensamentos negativos, de morte, pessimistas e irrealistas. Penso que é o processo mais difícil de todos. O meu corpo está habituado a um estado de ansiedade sempre que algo me transtorna. Estou viciado nisso. Há algo em mim que activa a reacção por puro prazer e hábito. Não tem mal, o problema é a forma como interpreto a reacção. Portanto a solução julgo que passa pela perseverança e coragem, no cultivo do pensamento positivo perante qualquer tipo de coisa e acreditar que acima de tudo, Eu não sou apenas a minha mente. Ela faz parte de um todo (que ainda desconheço) e que só faz sentido usá-la em prol de mim e não contra mim."


O termo iluminação que aparece referenciado no texto surge como o culminar de um processo espiritual. Não se trata de religião, mas de espiritualidade. A espiritualidade nasce através do amor e evolui com o cultivo do conhecimento acerca de si próprio. Não se deve associar de todo a espiritualidade a religiosidade pois não se trata de acreditar nem de se identificar com crenças que são necessariamente externas ao Eu como os santos, os profetas, os padres. É através do olhar atento para o interior do Eu próprio que se evolui para um estado de perfeita consciência, paz, harmonia e sabedoria. Tudo o resto que resulta de uma fuga para o exterior produz ignorância e por sua vez infelicidade, apego, aversão, dualidade, sentimento de culpa, isolamento, medos.

Os budistas assumem como principal objectivo atingir o estado de nirvana, ou iluminação.

"Most people have heard of nirvana. It has become equated with a sort of eastern version of heaven. Actually, nirvana simply means cessation. It is the cessation of passion, aggression and ignorance; the cessation of the struggle to prove our existence to the world, to survive. We don't have to struggle to survive after all. We have already survived. We survive now; the struggle was just an extra complication that we added to our lives because we had lost our confidence in the way things are. We no longer need to manipulate things as they are into things as we would like them to be."

in buddhanet

Tradução:
Muitas pessoas já ouviram falar de nirvana. Tem vindo a ser comparado com a versão ocidental de paraíso. De facto, nirvana significa apenas cessão. É a cessão da luxúria, agressividade e ignorância; a cessão da luta para tentar provar a nossa existência ao mundo, para sobreviver. Afinal de contas nós não temos de nos esforçar para sobreviver. Nós já sobrevivemos. Nós sobrevivemos agora; a luta foi apenas uma complicação extra que adicionámos às nossas vidas porque perdemos a confiança na forma como as coisas são. Nós não precisamos mais de manipular as coisas tal qual como são afim de as obtermos à nossa maneira.